No dia 12 de abril, sexta-feira, um grupo de 47 alunos doo 11º ano de Biologia e Geologia acompanhados por 3 professores, estiveram no Cabril do Ceira, para percorrerem cerca de 40 milhões de anos de história “visitando” as formações paleozoicas desde o Ordovícico ao Silúrico (+/-485 a 443 Ma.). Ao longo deste corte, os alunos puderam contactar com as formações do ordovícico inferior, impondo-se na paisagem as formações do Quartzito Armoricano, que formam as cristas que o rio Ceira diligentemente abriu para definir a “Garganta do Ceira”, ao contrário do Homem que aqui, face à dureza do quartzito, desistiu da linha de caminho-de-ferro. Daqui até ao ordovícico Superior e transição para o Silúrico, a “aula de campo” permitiu que os alunos reconhecessem nas rochas as “marcas” da história do passado na Terra aquando da formação deste local que agora aqui aflora. As alterações do nível do mar, ora com subidas (transgressões), ora com regressões; a comunidade de seres vivos (trilobites, ostracodes, moluscos, etc.) e a atividade magmática com as evidentes marcas de meteorização física e química, fazem deste local um geossítio de excecional interesse didático (no âmbito da sedimentologia, estratigrafia, tectónica e paleontologia), razão que justificou a deslocação destes alunos, desde Pombal até a Serpins.
Esta aula de campo foi orientada pela geóloga Sofia Pereira, investigadora e professora do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra, que gentil e entusiasticamente partilhou algum do seu conhecimento com os alunos do 11º ano que, contactando in loco com a Geologia, agradecem as aprendizagens facilitadoras da sua prestação nos exames nacionais e as que guardarão para sempre. Destaca-se ainda a valiosa colaboração prestada pela Junta de Freguesia de Serpins, ao facultar um autocarro para o transporte dos participantes desde Maria Mendes até mais próximo da “Garganta” do Cabril do Ceira. Por último, esta atividade teve, ainda, a colaboração da professora Luísa Sales que, apesar de já aposentada mantém o entusiasmo por ensinar e aprender e foi fundamental para o estabelecimento de pontes entre todos os intervenientes. Na hora do almoço, no parque de merendas da Praia Fluvial da Senhora da Graça, esta atividade ainda teve direito a uma “prova gastronómica” com a degustação de iguarias da região com as Broas de Maçã e Canela e a Broa de Leitão de Serpins, mais um gesto de grande simpatia e envolvimento com todos da professora Luísa Sales. Alunos e professores da escola secundária de Pombal a todos agradecem esta experiência de partilha e aprendizagem.
À tarde, no Casmilo, Condeixa-a-Nova, o grupo era esperado pelo professor Luís Costa, sempre disponível para percorrer “vales e montanhas” a ensinar Geologia. Aqui, organizados em três grupos, a aula de campo prosseguiu em terrenos do Jurássico (+/-485 a 443 Ma.) e à descoberta dos aspectos geomorfológicos típicos do modelado cársico: canhão fluviocársico, campos de lapiás, dolinas, terra rossa e as “buracas” que dão nome a este vale. As “Buracas” são cavernas ou reentrâncias, de forma circular ou elíptica com paredes de aspeto rugoso de desenvolvimento horizontal e cuja largura e profundidade, não ultrapassa a dezena de metros. Estas cavidades, maioritariamente dispostas em níveis de calcário mais poroso e diaclasado, podem ter resultado de ações fluviais ou ser devidas ao efeito da gelifração diferencial durante os últimos períodos frios do Quaternário podendo a sua origem estar ligada a um processo misto de gelifração e dissolução do calcário (Cunha, 1986; 1990).
Depois de um dia a aprender com o que as “rochas nos contam”, regressamos à escola cansados mas, mais enriquecidos pela descoberta de novas paisagens, talvez novos amigos e com histórias para “viajarmos ao passado” quando quisermos!
O docente, José Costa