Viagem de estudo à Terceira


Também ela erguida peça a peça, com pedaços que, provindos das profundezas, se acumularam num aparente caos que tentamos interpretar, a Terceira guarda memória de um parto violento nas cicatrizes do seu corpo de ilha vulcânica. Cicatrizes antigas (Graben das Lages, Serra do Cume, Caldeira do Guilherme Moniz…), recentes (Monte Brasil, Ilhéus das Cabras, Algar do Carvão…) e muito recentes (Mistério Negro e Biscoitos), permitem sequenciar temporalmente a construção da ilha que teima em manter-se viva – erupção da Serreta (1998) e Furnas do enxofre (atividade fumarólica).

Púdica, deixou-se envolver por um manto verde de urzes, de loureiros, de cedros, de pau branco, de vidálias…, numa paleta de cor propícia ao sonho. Mas os sonhos já não respeitam ao corpo, mas à alma e a da Terceira reside na sua gente que, desde o século XV, foi testemunhando, com espanto e temor, os espasmos telúricos, daí resultando um culto sentido ao Espírito Santo traduzido nas festas maiores da ilha, da Páscoa ao Pentecostes, centradas nas dezenas de Impérios de que se orgulham e preservam. Corajosos, resistiram ao domínio espanhol até ao verão de 1582 e abraçaram o constitucionalismo, em 1828, tendo Angra passado a capital do Reino em 1830. Daqui foi organizada a resistência aos contra-ataques do miguelismo e «D. Maria II conferiu à cidade o título de “mui nobre, leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo” e condecorou-a com a Grã-Cruz da Torre e Espada. A cidade sofreu com o violento sismo de 1 de janeiro de 1980. A 7 de dezembro de 1983, o centro histórico da cidade de Angra do Heroísmo tornou-se Património Mundial da UNESCO». Na Praia, hoje da Vitória, foi travada, em 1829, uma tentativa de desembarque das tropas miguelistas. Desta amálgama se fez a alma da ilha, corajosa, orgulhosa, solidária e festiva.

Procurou esta visita proporcionar aos alunos, pais e professores que puderam e/ou quiseram participar, um percurso pelo corpo e pela alma da Terceira e deseja-se que tenha deixado uma marca indelével na alma de cada um.

Maria Hermínia Marques – professora de EMRC