Desafios da Sociedade do Cansaço


A T. iniciou o processo de RVCC no dia 07 de junho de 2023 num ritmo que, a manter-se, faria com que demorasse muito mais tempo a concluir um percurso que a Carta de Qualidade dos Centros Qualifica aponta como devendo ter duração desejável compreendida entre 9 a 12 meses. Tal confirmar-se-ia porque a sua disponibilidade estava comprometida com os constrangimentos que se lhe atravessavam no caminho e porque primeiro esteve sempre o mais importante. De facto, as decisões que tomou ao longo da sua vida, desde nova, deram sempre primazia ao mais importante – como intitulou o seu portefólio – e, embora o processo de RVCC também o fosse, muitas vezes não esteve no topo das prioridades e competia à Equipa do Centro respeitar quando era a sua família, a saúde ou o bem-estar físico e mental a ocupar esse lugar.

No entanto, apesar de inicialmente se refugiar na flexibilidade característica deste processo, rápido tomou consciência de que não poderia continuar àquele ritmo se pretendia libertar-se desta etapa para permitir que outras entrassem na sua vida, de tal modo que o discurso inicial de “não posso…” transformou-se em “vou fazer o esforço e vou conseguir!”. E esta é precisamente uma das expressões presentes na voz da sociedade contemporânea, como Byung-Chul Han refere na sua obra “Sociedade do Cansaço”, a qual serviu de inspiração à apresentação do trabalho final da T., na sua sessão de júri de certificação, que decorreu no dia 29 de maio de 2025.

Fazendo um paralelismo com as suas experiências pessoais e profissionais, a candidata começou por descrever a sociedade do tédio, na qual se assiste a uma fragmentação da atenção, que decorre do multitasking e da constante pressão para o desempenho, o que conduz ao assédio laboral em muitas organizações que, de acordo com Byung-Chul Han, atinge proporções pandémicas nas organizações contemporâneas. No que concerne à sociedade do cansaço, salientou que as doenças do século XXI são inflamatórias e não infeciosas e decorrem do excesso de estímulos externos e da dificuldade em descansar com qualidade, o que se repercute em estados de burnout e de depressão. Quanto ao impacto da tecnologia, a candidata destacou a hiperconectividade a que estamos sujeitos devido
à utilização do telemóvel (que se até há relativamente pouco tempo apenas permitia estabelecer comunicação através de mensagens e telefonemas, hoje é um minicomputador que trazemos no bolso), a exposição a excesso de informação (surgindo muitas vezes Fake News para as quais é necessário estar-se particularmente atento) e o papel assumido pelas redes sociais, que muitas pessoas utilizam como meio de autopromoção. No que respeita à crise da negatividade, destacou a cultura do otimismo, que leva a que muitas pessoas sejam intolerantes à frustração (não dispondo de ferramentas emocionais que lhes permitam ultrapassar adversidades) e a perda de pensamento crítico (que necessita de reflexão, questionamento, hipóteses e dúvida para se desenvolver – o que não é possível numa sociedade “mecanizada” entre um somatório asfixiante de tarefas).

A obra de Byung-Chul Han não termina sem uma recomendação para vencer todos estes desafios que perpassam a sociedade contemporânea: a valorização do ócio que, embora muitas vezes confundido com preguiça, favorece a reflexão, a introspeção, a contemplação, o autoconhecimento e o significado existencial. Na realidade, embora hoje em dia seja uma tarefa hercúlea viver sem dispositivos tecnológicos e ferramentas digitais, é possível assumir uma atitude crítica e consciente, impondo por vezes limites a nós próprios, no sentido de desacelerar o ritmo em que tudo se executa para nos permitirmos também desconectarmos do digital para nos conectarmos ao “aqui e agora”.

Isabel Moio -Técnica de ORVC

Sessão de Esclarecimento sobre Fake News com o Pombal Jornal


No passado dia 14 de abril de 2025, pelas 20h00, o auditório Dra. Gabriela Coelho acolheu uma sessão de esclarecimento sobre Fake News (notícias falsas), dinamizada pela Diretora do Pombal Jornal, Manuela Frias, e pelo jornalista Rui Bimba.

A temática despertou desde logo grande interesse entre os presentes — formandos do curso EFA e candidatos do processo de RVCC — que foram envolvidos numa sessão dinâmica e esclarecedora. Com uma linguagem acessível e próxima, a palestrante conseguiu cativar a atenção da audiência e incentivou a participação ativa dos presentes.

Logo no início, foi lançada uma reflexão sobre a ligação entre Fake News e as emoções. Ficámos conscientes de que, muitas vezes, somos levados a clicar e a ler determinados artigos apenas porque os títulos nos despertam emoções fortes, sejam elas positivas ou negativas.

De seguida, foi partilhada uma quadra do poeta António Aleixo, que resume bem a natureza enganadora das Fake News:

“Para a mentira ser segura

E atingir profundidade

Tem de trazer à mistura

Qualquer coisa de verdade.”

Os versos serviram de ponto de partida para discutir o facto de muitas notícias falsas se basearem num fundo de verdade, o que as torna ainda mais difíceis de detetar.

Recorrendo a uma apresentação do Centro Protocolar de Formação para Jornalistas (Cenjor), a jornalista orientou os participantes no processo de verificação de uma notícia. Foram destacados aspetos fundamentais como a verificação da fonte, a autoria e a data da publicação. Foi apresentado, a título de exemplo, um artigo do Pombal Jornal, publicado a 1 de abril de 2025, sobre uma suposta praia naturista no Osso da Baleia. A notícia, não assinada e sem referências oficiais, revelou-se uma forma subtil de alerta sobre o cuidado que devemos ter na análise da informação.

A sessão terminou com uma reflexão sobre a ética no jornalismo, a partir da citação:

“O jornalismo tem de explicar-se; as Fake News nunca o farão.”

A frase sublinha que o jornalismo, guiado pela ética e pela responsabilidade associada à carteira profissional, explica-se e corrige-se. As fake news não têm ética nem dever de prestação de contas — apenas enganam.

Por fim, foi abordado um novo  desafio que é a Inteligência Artificial cada vez mais usada na produção e disseminação de informação. Esta realidade que requer, mais do que nunca, leitores atentos e conscientes.

Tal como defendia o sociólogo Manuel Castells, “vivemos na era da informação”, mas atualmente essa era transformou-se, perigosamente, numa era de desinformação. O apelo ao lucro, por parte de grandes plataformas, leva à multiplicação de conteúdos apelativos, muitas vezes enganosos, cujo único objetivo é gerar cliques e vender publicidade.

Esta sessão deixou claro que formar cidadãos críticos e informados é essencial para combater a desinformação. Saber ler, interpretar e questionar as notícias é hoje uma competência fundamental.

Agradecemos à Diretora do Pombal Jornal, Manuela Frias, e ao jornalista Rui Bimba a disponibilidade e generosidade em se deslocarem à escola para esta partilha tão relevante.

 

Os candidatos do processo RVCC de nível Secundário – Fátima Martins, Madalena Rocha, Filipe Gameiro e Luís Gonçalves

Não existe planeta B


Várias são as obras de ficção científica em que as naves circulam pelo espaço com a mesma facilidade com que hoje apanhamos um voo para uma cidade do outro lado do mundo. Nestas realidades existem múltiplos planetas habitáveis e o ser humano assume de novo o papel de explorador e por vezes colonizador desses habitats. No entanto, apesar de toda a evolução tecnológica, ainda não foi possível identificar de forma inequívoca um planeta que reúna as condições ideais à vida, quanto mais termos meios de viajar até lá. Muito provavelmente será uma questão de tempo, mas no compasso de espera, a única certeza é que apenas existe um planeta Terra e que da sua preservação depende a nossa sobrevivência. Claro que mesmo havendo outros mundos, não deixaríamos de ser responsáveis por salvaguardar o nosso “berço”, que é também o lar de muitas outras espécies.

Foi sobre este dever que se focou a apresentação[1] feita por uma candidata na sua prova de certificação do processo RVCC de nível secundário no passado dia 16 de abril de 2025, inspirada pela obra de Louise Bradford “Salvem o Mundo – Não existe planeta B”. Lembrando que o termo ecologia deriva da palavra grega oikos que significa lar, é em casa que podemos começar, implementando estratégias simples para poupar energia e água, reduzir o desperdício e evitar os produtos químicos mais nocivos para o ambiente e saúde. Por outro lado, ao adotarmos uma dieta mediterrânica, moderando a ingestão de carne e peixe e privilegiando o consumo de produtos locais e da época, bem com o azeite, podemos reduzir de forma muito significativa a nossa pegada de carbono. A água é um bem escasso (apenas 3% da água no mundo é potável), pelo que devemos implementar medidas para preservar este recurso. Para isso não basta ter em conta o nosso consumo direto, mas devemos estar alerta para a água utilizada na indústria, por exemplo para produzir um smartphone são utilizados 11 350L de água. Também o plástico apresenta grandes desafios ambientais, pois leva centenas de anos a decompor-se, produzimos toneladas deste produto todos os anos e apenas 9% do plástico chega devidamente às centrais de reciclagem. O restante vai parar aos oceanos e aterros, sendo responsável pela morte de milhares de animais marinhos. Para mudar basta repensar os nossos hábitos, nomeadamente a forma como vamos às compras. Pensando no exemplo da roupa, podemos investir em peças de vestuário de qualidade, com mais durabilidade, evitando a fast fashion. Também os tecidos escolhidos contribuem para o impacto ambiental, podendo privilegiar-se tecidos naturais. Finalmente para reduzir o consumismo podemos adotar a estratégia do armário-cápsula, em que se limita o número de peças de vestuário a 30, 50 no máximo (contando o calçado) e fazendo compras conscientes. O excedente pode ser doado, vendido ou reutilizado. Está nas mãos de cada um de nós contribuir para a mudança.

[1] https://gamma.app/docs/Salvem-o-Mundo-Nao-Existe-Planeta-B-8zjafhhedqv8cfv

Mikael Mendes – Técnico de ORVC

“Narrativas de Integração” – Mesa redonda


No dia 27 de março, no Auditório Gabriela Coelho da Escola Secundária, decorreu uma “Mesa Redonda”, subordinada ao tema “Narrativas de Integração”, que se inseriu na Atividade Integradora, no âmbito da unidade de Cidadania e Profissionalidade 1, do Curso EFA.

Contou com a participação dos formandos das turmas de Português Língua de Acolhimento, que apresentaram o seu testemunho e as suas vivências por terras pombalenses.

Os nossos convidados eram originários de França, Ucrânia, Bangladesh, Hungria, Venezuela e Brasil. Foram unânimes em considerar Portugal, um país tranquilo, organizado, acolhedor, não se sentindo por isso, discriminados.

Causas

Nem todos vieram pelos mesmos motivos.

Uns, por motivos económicos, à procura de melhores condições de vida.

Outros, preocupados com a falta de segurança nos seus países.

Procuram um futuro melhor para si e para os seus filhos.

Uma situação diferente, é a de uma migrante, que juntamente com a sua família, veio para usufruir da sua reforma.

O amor, foi o motivo que também trouxe até nós um dos convidados.

Dificuldades – Todos consideram, que as maiores dificuldades passaram pela língua, a burocracia na obtenção de documentação, o clima e a alimentação. A maioria não pensa regressar, principalmente os imigrantes, que aqui têm os seus filhos, integrados no ensino português.

Foi uma noite de narrativas de vida, que nos permitiu conhecer melhor esta realidade que o país, e mais concretamente Pombal, está a atravessar.

Os Formandos do curso EFA

 

Velhos? São os trapos!


As portas abertas do Centro Qualifica determinam a diversidade de perfis, de histórias e de vidas que por elas entram. Nem todos são jovens e empregados. Nem todos são de meia-idade empregados. Nem todos querem ficar acomodados à situação laboral em que se encontram. Também são reformadas algumas das pessoas que aceitam o desafio de voltar aos bancos da escola com um caderno na pasta, um coração aberto e as mãos calejadas da vida dispostas a agarrar novamente um lápis e uma caneta, mas também a aprender a explorar algumas das ferramentas informáticas a que um computador nos dá acesso.

Foi este o caso da M. e da N. que, cerca de sessenta anos depois de saírem da escola, trocaram a comodidade das noites na sua casa pelas cadeiras de uma sala que as levou a revisitar o 25 de Abril de 1974 – tendo-o vivenciado, sem na altura terem noção do que se estava a passar –, que as ajudou a suavizar a relação árida com os números quando tomaram consciência que a Matemática, se compreendida, ganha de facto sentido e significado, e que as ajudou a voltar a juntar as letras em exercícios de leitura e de escrita melhorando estas competências basilares na vida de qualquer pessoa.

Passados todos esses anos desde que a escola ficou para lá no tempo, poderá não lhes ter sido inicialmente fácil retomar hábitos enferrujados e desenvolver outros: para uma, entre as mondas do arroz e a gestão de um restaurante construído de raiz; para outra, no carrossel de aventuras criadas de restaurante em restaurante, ora por conta própria ora por conta de outrem. No entanto, tiveram em comum o exemplo de vida que foram para a Equipa, mas sobretudo para outros potenciais candidatos, que contaminaram com a sua energia e capacidade de adaptação e de superação. Afinal… Velhos? São os trapos!

Isabel Moio – Técnica de ORVC

Superar desafios


A A. teve a coragem que muitos não têm: arrancar as suas raízes do seu país de origem, a Roménia, para as transplantar noutro, que a acolheu. Escolheu Portugal. Mas, para agarrar bem à terra, como gostam as plantas que querem crescer fortes e firmes, tem enfrentado as barreiras linguísticas que ainda sopram agitadas e lhe dificultam uma integração plena e mais participativa.

Frequentar um curso de Português Língua de Acolhimento poderia ajudá-la a desabrochar. Contudo, o horário de trabalho que pratica impede-a não apenas de passar mais tempo com os seus filhos, mas também de cumprir a assiduidade requerida por aquele curso.

Por isso, viu no processo de RVCC um rasgo de luz e um raio de sol que poderia aquecer-lhe as pétalas e amaciar os espinhos da língua portuguesa. Não havendo soluções ideais nem milagres, a Equipa procurou dar-lhe as condições de que necessitam as plantas corajosas para crescer com determinação. Assim, durante este percurso foi ganhando a autoconfiança que lhe permitiu melhorar as suas competências na escrita, na oralidade e na leitura, mas também na informática e no raciocínio matemático, ciente de que o caminho a percorrer na aprendizagem ao longo (e em todos os espaços) da vida não encerra com o término do processo de RVCC.

Aos poucos, a A. foi-se libertando da sua timidez inicial, mostrando a fibra de que também é feita de modo a poder partilhar, no dia 03 de abril de 2025, o resultado de um percurso de (auto)descoberta e de (auto)conhecimento que lhe foi exigente e desafiante, mas que a Equipa do Centro Qualifica também acredita que terá sido enriquecedor, construtivo e projetivo.

Isabel Moio – Técnica de ORVC

Ciência e Sociedade


É inegável que a qualidade de vida em geral tem aumentado um pouco por todo o mundo e que isso só foi alcançado graças ao desenvolvimento científico e tecnológico. Contudo, ainda existem vozes que se levantam para por em causa factos comprovados, indo contra milhares de estudos e até daquilo que uma simples observação pode corroborar. Se há áreas em que a subjetividade é uma parte integrante, como a religião ou a arte, noutras deve prevalecer o raciocínio objetivo. E não deveríamos escolher ao sabor do vento, quando e em que temáticas reconhecemos validade ao conhecimento científico. O “achismo” e as opiniões assentes em meras perceções devem ficar confinadas às conversas de café e mesmo aí a sua utilidade é questionável. Mas se há quem se recuse a ver as evidências, por teimosia ou má vontade, também existem muitos de nós que apenas são condicionados pela desinformação que circula. Felizmente, existem autores que se dedicam ao esclarecimento de equívocos e divulgação da ciência, tal como é o caso de David Marçal. No seu livro “Como perder amigos rapidamente” de 2024 desconstrói algumas ideias erradas, apresentando factos científicos, num texto de fácil leitura bem-humorado. E foi esta a obra usada pelos dois candidatos que se apresentaram à sessão de júri de certificação de nível secundário do dia 20 de março de 2025.

A primeira apresentação[1] focada nos capítulos “Como estragar a conversa de circunstância” e “Como ser cancelado”, começou por desafiar a nossa perceção da realidade, demonstrando com dados do Gapminder que o mundo está cada vez melhor. No entanto o tom utilizado nos meios de comunicação tem-se tornado mais negativo, contaminando a nossa visão do mundo. Isto não significa que não haja coisas a mudar, apenas que as conquistas alcançadas nos últimos anos não são negligenciáveis. Não é só o jornalismo que condiciona a nossas ideias, também os filmes e livros podem induzir-nos em erro, por exemplo contrariamente ao que é por vezes veiculado, a ciência não é uma aliada das ditaduras. Com o movimento pós-moderno, que defende a subjetividade da verdade, alegando que são reforçadas determinadas teorias como forma de controlo e poder, surge também a confusão entre opinião e facto.  No entanto é com o método científico que encontramos respostas para temas polémicas como é o caso da participação de mulheres transgénero em categorias femininas de desporto. É graças à ciência que conseguimos desenvolver a medicina para respeitar as características de diferentes populações, sem ressuscitar a ideia comprovadamente errada de existirem raças humanas. Mesmo que alguns momentos da história possam ter a si associados ideais ou acontecimentos terríveis, isso não pode servir para apagar as conquistas alcançadas nesses mesmos períodos, por exemplo apesar de durante os Descobrimento ter havido escravatura, esta época marca grandes desenvolvimentos científicos e tecnológicos que possibilitaram a descoberta da rota marítima para a Índia e a potencialização da globalização.

A segunda apresentação[2] dedicou-se aos capítulos “Como criar mau ambiente” e “Como arranjar problemas de saúde”. No que ao ambiente diz respeito e apesar da extensa bibliografia científica que comprova a existência do aquecimento global, ainda há quem ponha em causa este fenómeno. Mas se o negacionismo é problemático, no outro polo temos discursos alarmistas, que ignoram os dados, para semear o pânico. Por exemplo, não se espera que o aquecimento global leve a um colapso social, sendo que as Nações Unidas até preveem o aumento da população mundial até 2100. Também a ideia de que as alterações climáticas potenciaram a fome tem algumas lacunas, por não ter em conta o aumento muito significativo da produtividade agrícola dos últimos anos. Se nesta história o dióxido de carbono tem sido o vilão, não devemos esquecer-nos que foi graças à Revolução Industrial, assente na utilização de combustíveis fósseis, que se impulsionou a economia e a melhoria das condições de vida. Outro vilão incompreendido tem sido a energia nuclear, que contrariamente às ideias populares, representam grandes vantagens quando comparadas com outras fontes de energia (mesmo as renováveis). A verdade é que há cada vez mais empresas a rentabilizarem produtos ditos ecológicos, mesmo quando não o são (“greenwashing”), como foi o caso das trotinetes que apenas são mais verdes quando comparadas com uma viagem de carro a combustão. Já no que concerne o tema da saúde, apesar do elevado número de pacientes que procuram as terapias alternativas estas são pseudociências, no sentido em que existem pouquíssimos estudos que comprovem a sua eficácia e estes apresentam sérios problemas metodológicos. Assim o mais provável é que os benefícios relatados por quem recorre a estas técnicas estejam apenas a sentir um efeito placebo. Para uma análise mais detalhada dos estudos relativos a terapias alternativas, nomeadamente a acupuntura, é possível consultar o site cochrane.

[1] https://gamma.app/docs/Como-Perder-Amigos-Rapidamente-Comunicacao-Social-e-Sociedade-1v6ttmxz8e3yasy

[2] https://gamma.app/docs/Como-Perder-Amigos-Rapidamente-Ambiente-e-Saude-ifury4afld1irf3

 

Mikael Mendes – Técnico de ORVC

Alguém no Mundo


Escrever não é novidade para quem, perante duras batalhas, a dada altura decidiu ter chegado o momento de abrir gavetas, tirar tudo para fora e reorganizar para dar um significado maior, tendo publicado o livro ‘Eu contra o mundo’.

Apesar de a K. um dia ter sentido que estava contra o mundo, ou que o mundo estaria contra si, foi edificando o mundo que é, enquanto ser humano, cidadã e trabalhadora e resolveu-se de forma madura e responsável. Foi com este perfil, e com vontade de fazer diferente (e a diferença) no mundo, que se dedicou à conclusão do 9.º ano de escolaridade através do Processo de RVCC para, com este requisito nas mãos, poder inscrever-se num Curso EFA de Técnico de Serviços Jurídicos.

Aqui, não foi contra o mundo de nenhuma das áreas de competências-chave, tendo conseguido, sim, travar uma relação pacífica com cada uma delas, absorvendo o que de melhor lhe ofereceram, sobretudo a revisitação de conteúdos de cidadania, o desenvolvimento de novas competências digitais e o aprofundamento de pressupostos e raciocínios matemáticos.

O dia 20 de março de 2025 marcou a conclusão deste percurso formativo. Agora, com um novo mundo nas suas mãos, importa lembrar que a vida é um milagre aos olhos de quem a tem e a certeza de uma luta para um dia ser mais do que ninguém num mundo onde todos são alguém.

Isabel Moio – Técnica de ORVC

Sons e Sabores da Interculturalidade – À pala de Camões


No dia 23 de janeiro, participei no evento “Sons e Sabores da Interculturalidade – À Pala de Camões” no âmbito da comemoração dos 500 anos do nascimento do poeta Luís de Camões.

A atividade juntou os formandos que frequentam a Escola Secundária de Pombal no período noturno, nomeadamente, três turmas de Português Língua de Acolhimento (PLA) sendo duas de nível A1/A2 e uma de B1/B2; uma turma do Curso de Educação e Formação de Adultos (EFA) e, por fim, o processso de  Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências Profissionais (RVCC).

O sarau começou com dois formandos do curso EFA a apresentarem, através de um PowerPoint, o trabalho que desenvolveram no âmbito da Atividade Integradora subordinada ao tema: “Viagem a bordo da caravela de Vasco da Gama”. Um representou o escritor Luís Vaz de Camões, caracterizado com a pala no olho direito e uma coroa de louro, e o colega, o navegador Vasco da Gama, usando também acessórios característicos como o chapéu, a espada, a capa e a barba. Na sua apresentação, destacaram a importância da obra “Os Lusíadas”; a peça de teatro “Lusíadas”, a que assistiram, exibida pelo Teatro Amador de Pombal; os equipamentos náuticos do século XV e da atualidade e os conhecimentos que adquiriram com a palestra sobre a globalização. Seguiram-se duas formandas do curso EFA a declamar os poemas “O Mostrengo” de Fernando Pessoa e “Camões e a Tença” a de Sophia de Mello Breyner.

A atividade prosseguiu com a intervenção dos formandos de PLA apresentando poetas do seu país de origem e declamando trechos de poemas dos mesmos, na sua língua materna: turca, belga, ucraniana, bengalesa, húngara e neerlandesa. Com esta intervenção, apercebemo-nos que na cidade de Pombal há uma vasta diversidade linguística e cultural.

No seguimento da comemoração, a professora bibliotecária Fernanda Gomes falou sobre a importância dos descobrimentos que fizeram com que a língua portuguesa seja hoje a 5.ª mais popular no mundo, sendo o idioma mais falado no hemisfério sul. As regiões que fazem parte da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) são: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. A região autónoma de Macau, na Ásia, também usa o português oficialmente sendo ao todo dez os territórios de língua portuguesa[1].

Uma das maiores referências da nossa cultura é o poeta Luís Vaz de Camões descrito como o “pai da língua portuguesa”. Camões é considerado o maior poeta renascentista português. Criou a maior obra da nossa literatura: “Os Lusíadas” que diz-se ser a obra que “fundou” a língua portuguesa. Começa por escrever no poema:

“As armas e os barões assinalados,

 Que da ocidental praia Lusitana,

 Por mares nunca de antes navegados,

 Passaram ainda além da Taprobana,

 Em perigos e guerras esforçados,

Mais do que prometia a força humana,

 E entre gente remota edificaram

 Novo reino, que tanto sublimaram.”.

O poeta narra a descoberta, pelo navegador português Vasco da Gama (1469-1524), da rota marítima para a Índia — um marco nas relações comerciais e exploratórias do século 15 e, de certa forma, a consolidação de um momento historicamente relevante para Portugal[2].

A professora bibliotecária destacou ainda a importação de algumas palavras e produtos vindos de países como a América, a China, a Índia, como por exemplo: a vinda das especiarias, frutas, tecidos e os chás. No que toca às palavras, destacou as seguintes: bengala (de “bangala”), bicho (de “bicho”), caju (de “kaju”), caril (de “kari”), catana (de “katana”), chá (de “cha”). côco (de “kokos”), jasmim (de “yasmin”), manga (de “mangga”) e pimenta (de “pippali”). Terminou a sua intervenção com um jogo cultural de “Adivinhas” para interagir com o público e tentar descobrir os produtos que vieram enriquecer a nossa cultura  e a sua origem.

A segunda parte do evento decorreu com todos os formandos, formadores e elementos da direção, a partilhar iguarias tradicionais . Mostrámos assim, também através da comida, um pouco da tradição de cada país.

Foi um tempo de partilha muito enriquecedor.

Rita Mendes – Candidata do processo RVCC

[1] Informação e imagem retirada do site: https://www.dicio.com.br/paises-que-falam-portugues/. Consultado a 05/02/2025.
[2] Informação retirada do site: https://www.bbc.com/portuguese/geral-60711413. Consultado a 05/02/2025.

Testemunhos:

Foi uma experiência maravilhosa durante o evento da nossa aula de Português. Ouvimos apresentações sobre poetas de vários países, o que foi uma forma muito interessante de explorar diferentes culturas e línguas. Depois, juntámo-nos todos para partilhar pratos dos nossos países de origem, o que tornou a experiência ainda mais especial. Foi verdadeiramente fascinante ver tantas culturas e línguas diferentes reunidas num ambiente tão caloroso e acolhedor! – Kleiri Vahtra (A1+A2)
Apresentei um prato de grão-de-bico triturado com tahini, uma receita tradicional na cultura dos povos do Médio Oriente com raízes aramaicas. Foi um evento maravilhoso, interessante e inspirador, onde provámos diferentes tipos de gastronomia de várias partes do mundo. Houve conexão humana e compreensão. Estou muito grato a todos os que organizaram, tornaram possível, participaram e estiveram presentes. – Ibrahim Elido (A1+A2)
No dia 23 de janeiro, a nossa aula foi muito interessante. Os diferentes países foram representados pelos vários alunos, que levaram especialidades culinárias do seu país. Alguns participantes leram também um poema do seu país. Foi um momento muito divertido. – Jeannine Segura (A1+A2)
No evento “Sons e Sabores da Multiculturalidade”, eu apresentei um poeta da Ucrânia e declamei um poema seu na minha língua. Também ouvi poesia na língua de outros países. Fiz uma comida tradicional e provei comida de outros países. A comida estava muito saborosa. Foi um momento feliz, porque estivemos todos juntos. – Alla Chlek (A1+A2)
A atividade “Sons e Sabores da Interculturalidade” foi muito agradável! Ouvir a língua de diferentes países e provar comidas de cada um foi uma experiência muito gratificante.  – Andrea Rodriguez (B1 B2)
Tivemos uma atividade diferente e muito interessante porque estivemos todos juntos, ouvimos diferentes idiomas e cada pessoa trouxe comida do seu país para partilhar com todos. Erika Perez (B1 B2)
Na noite de 23 de janeiro, tivemos oportunidade de conhecer muitas culturas e tradições através de comida, poemas e pessoas de todas as partes do mundo com o mesmo objetivo: aprender e conhecer histórias de vida e experiências novas e diferentes – Catherine Rodrigues (B1 B2)
Tivemos a festa “Sons e Sabores da Interculturalidade” e celebrámos o poeta Luís de Camões. Foi muito divertido ver todos os alunos de diferentes nacionalidades com os seus pratos nacionais. A comida era muito boa. Eu li um poema belga, mas estava tão nervosa que me esqueci de falar no microfone. – Gwendolina Boom (B1 B2)

Abelhas e Sustentabilidade: Uma Viagem ao Mundo dos Polinizadores com Paulo Santos


No dia 10 de fevereiro, numa parceria com a biblioteca escolar, tivemos o prazer de receber Paulo Santos, na Escola Secundária de Pombal, para uma palestra esclarecedora sobre o mundo fascinante das abelhas e a sua importância para a sustentabilidade.

Paulo Santos apresentou o seu projeto “Cuscas”, que nos deu a conhecer o mundo maravilhoso destes insetos. A discussão destacou o papel vital das abelhas na polinização e as potenciais consequências do seu desaparecimento, incluindo o impacto na qualidade e quantidade dos nossos alimentos

As abelhas são o ser vivo mais importante do planeta porque são responsáveis pela polinização de 70% das culturas agrícolas, com destaque para: 100% das amêndoas, 90% das maçãs, 90% dos mirtilos, 48% dos pêssegos, 27% das laranjas, 16%do algodão, 5% da soja. Também contribuem para uma boa parte do oxigénio, permitem a existência de herbívoros que nos proporcionam os seus derivados como o leite, queijo e iogurtes, ajudam no ciclo da água pois este está diretamente ligado à biodiversidade.

O mel possui propriedades nutritivas e terapêuticas que trazem vários benefícios à saúde, é capaz de proteger as células do envelhecimento precoce e regular os níveis de triglicerídeos e colesterol. Por ser rico em antioxidantes, o mel ajuda a diminuir a pressão sanguínea, além de conter propriedades antimicrobianas, combatendo infeções causadas por fungos, vírus e bactérias e aliviando a dor de garganta e a tosse. Do ponto de vista nutricional, o mel pode ser usado como adoçante natural e substituto de outros açúcares. O jogador de futebol Pepe afirmou que o segredo da sua longevidade passa pelo consumo diário de mel, que recebe de um amigo que o traz do sul do Brasil, que é muito típico da região, acrescentando que “com um mel daqueles estás imune a muitas coisas”.

Como insetos sociais, as abelhas vivem em colónias onde se dividem em hierarquias e possuem funções bem definidas. Em cada colónia existe uma rainha, de cinco a cem mil abelhas operárias e por volta de quatrocentos zangões. As funções de cada uma garantem a sobrevivência da colmeia. Após a cópula entre a abelha rainha e o zangão, a rainha deposita um ovo nos alvéolos da colmeia que as operárias fizeram anteriormente. Quando o ovo completar 3 dias, torna-se uma pequena larva e permanecerá nesse estado por 21 dias. As operárias serão agora responsáveis por alimentar com pólen essas larvas. O zangão morre após o acasalamento A divisão do trabalho na colmeia acontece de acordo com a idade dos insetos. Os trabalhos externos são, geralmente, realizados pelas operárias mais velhas e experientes, já que, ao sair, elas arriscam a vida e encontram predadores.

A vida adulta das abelhas está dividida em quatro fases:

– Do 5º ao 10º dia,  são chamadas abelhas nutrizes porque cuidam da alimentação das larvas em desenvolvimento. Nesta fase apresentam grande desenvolvimento das glândulas produtoras de geleia real.

– Do 11º ao 20º dia, produzem cera para construção de favos, quando há necessidade, pois nesta idade as operárias apresentam grande desenvolvimento das glândulas ceríferas. Além disso, recebem e desidratam o néctar trazido pelas campeiras, elaborando o mel.

– Do 18º ao 21º dia, realizam defesa da colmeia. Representam órgãos de defesa bem desenvolvidos, com grande acumular de veneno. Podem também participar no controlo da temperatura da colmeia.

– Do 22º dia até à morte, realizam a colheita de néctar, pólen, resina e água. São denominadas por campeiras.

As abelhas enfrentam, no entanto, grandes ameaças globais devido ao uso de pesticidas na agricultura, mas também sofrem com as alterações climáticas e os incêndios. Então, surge a apicultura urbana. O palestrante, Paulo Santos, apresentou o caso de uma cidade holandesa que criou jardins por cima das paragens dos autocarros. Em Paris, os telhados dos monumentos como a catedral de Notre Dame e a Ópera foram escolhidos para acolher as colmeias que acabam por ser uma atração turística. Em Portugal, temos o caso do município de Guimarães que apadrinhou o projeto e colocou colmeias nos seus edifícios. Lisboa abriga cerca de 140 espécies de abelhas em monumentos como o Mosteiro dos Jerónimos.

O palestrante apelou à plantação diversificada de flores tais como jarros, coentros, girassol, margaridas, alfazema, rosas e erva de gato. Como as abelhas precisam de alimento ao longo do ano, é necessário plantar flores que floresçam em diversas estações do ano.

A viagem ao mundo das abelhas, guiada por João Santos e o seu projeto “Cuscas”, revelou-nos a beleza e papel crucial que as abelhas desempenham no nosso ecossistema e na nossa própria sobrevivência. Que esta experiência nos inspire a olhar para estes insetos como sentinelas da biodiversidade, como lembretes constantes da intrincada teia que liga todos os seres vivos.

Daniel, David, Márcio, Sérgio, Sílvia e Marina – Candidatos do processo de RVCC – Nível Secundário