Construir o mundo a partir do que sabemos


O Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra e os três edifícios da Faculdade de Psicologia foram palco, entre os dias 11 e 13 de outubro, do XIV Congresso da Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação. Este ano, o tema aglutinador foi “Ciências, Culturas e Cidadanias”.

Especialistas em educação de várias instituições nacionais e internacionais permitiram que este evento acontecesse: uns, parte ativa da comissão executiva e organizadora; outros, por integrarem o painel da comissão científica. E, claro, também para isso contribuíram todos os técnicos, formadores, docentes, estudantes do ensino superior e investigadores (dentro e fora das nossas fronteiras) que, através de diferentes sessões e mesas temáticas, despoletaram o interesse da plateia e o questionamento.

Sendo as Ciências da Educação uma área de tão grande amplitude, foi possível ouvir contributos sobre temas tão diversos, tais como: políticas e flexibilização curricular; cultura, inclusão e equidade; redes e participação em investigação em educação; e educação e literacias no século XXI.

A propósito das literacias no século XXI, foi levantada a questão: como podem ser desenvolvidas? A resposta surgiu numa palavra-chave: conhecimentos. Assim, apenas o conhecimento permite a cada pessoa conhecer o mundo social em que se insere. Este mundo vai para lá do tangente e das aparências: é sempre construído, está por trás do visível e é ele que faz de cada pessoa um ser que aprende a pensar e, por isso, de pensamento crítico.

Sobretudo os adultos têm limitações em lidar com situações novas a partir de muita e nova informação. No entanto, também têm uma enorme potencialidade que reside nos seus conhecimentos anteriores. Na realidade, só conseguimos interpretar o mundo (social) a partir do que sabemos. Por isso, quanto mais soubermos, mais novas relações com o saber conseguimos estabelecer porque mais capacidade temos para compreendê-lo e, (auto)construindo-nos, mais facilmente transformamos o que já sabemos em função do que aprendemos de novo. E isso (também) faz de nós seres verdadeiramente criativos.

Enquanto assistia, no lado da plateia, questionava-me em silêncio retórico: poderá o processo de RVCC ter, com tudo isto, alguma relação? Respondi(-me) que sim. Este processo vem conceder uma nova oportunidade a quem, por diferentes motivos, não a teve em tempo (mais) oportuno. Mas não só. Vem, também, recuperar conhecimentos, quantas vezes desvalorizados pelos/as próprios/as adultos/as. E, mais do que isso, vem contribuir, durante as sessões de reconhecimento de competências e, com a obrigatoriedade de cumprir, no mínimo, 50 horas de formação complementar, para a construção de novos conhecimentos, tendo como alicerce os saberes previamente adquiridos e as experiências de vida devidamente contextualizadas.

Enquanto especialistas em educação de adultos, passa também pelo mapa das nossas missões cativar, motivar e despertar o gosto dos/as candidatos/as pelo conhecimento (consciência cívica, educação ambiental, importância da constituição de uma carteira de competências que seja muito mais do que um mero somatório de momentos formativos desconexos, etc.)… porque ser(-se) Educador/a de Adultos é tudo isto. E isto é muito mais do que simplesmente trabalhar em Educação de Adultos.

Isabel Moio- Técnica de ORVC