De alguma forma, todas as histórias de vida que nos passam pelas mãos e pelos olhos deixam marca. Em cada uma, à sua maneira, há suor, sacrifício, dores e amores. Há histórias que fazem história da (e com a) passagem pelo nosso Centro: umas porque, por necessidade, aceleram para que o aumento de escolaridade lhes rasgue a fita para alcançarem novas metas; outras, porque as vicissitudes da vida as prolongam e empurram na linha do tempo.
Foi esta última situação que aconteceu com a H., que iniciou o seu processo no verão de 2021 (pouco tempo depois de chegar do Brasil, sua terra-mãe), pois atravessou os ares de todas as estações, duas vezes, até aterrar na sessão de júri de certificação. Na bagagem trouxe o que de mais valioso requer um processo de RVCC: uma história de vida cujas aprendizagens e competências a equipa do Centro Qualifica constatou que mereciam ser reconhecidas e certificadas.
Ainda teve a oportunidade de realizar algumas sessões presencialmente, mas a interrupção letiva empurrou para setembro o natural desenrolar do processo. Nessas sessões foi possível verificar como a H. em duas ou três linhas sentia que já tinha escrito tudo e era com surpresa que via que a viagem tinha de ser mais profunda se quisesse que o voo fosse mais alto. O computador também lhe ofereceu diversos desafios. Por isso, quando incentivada a dar continuidade ao processo à distância – dado que emigrou novamente, agora para França, não tendo data prevista para novos voos de regresso – facilmente compreendeu que estaria por sua conta, por não ter quem, fisicamente ao seu lado, a socorresse nas maiores dificuldades.
A H. dá sentido ao ditado popular “a necessidade aguça o engenho” porque soube perder o medo das alturas e da trepidação da viagem. Destemida como sempre a conhecemos, comprou um computador, acedeu ao TEAMS, instalou uma impressora com scanner, comunicou através do WhatsApp, afinou a sua agenda, trocou a cadeira do escritório e mudou o próprio escritório para ter uma ambiente mais ergonómico… e fez-se à viagem à distância de um clique! A equipa está segura de que os ganhos desta viagem não foram unilaterais, pois deste lado também a nossa bagagem fica mais completa e rica quando somos testemunhas do crescimento dos autores cujas histórias nos passam pelas mãos e pelos olhos… e deixam marca.
Isabel Moio – Técnica de ORVC