O filme “O sonho de Wadjda”, do Plano Nacional de Cinema, tem como protagonista uma menina saudita de dez anos cujo sonho é ter uma bicicleta. Porém, no seu país não é permitido às mulheres ter uma. Wadjda não se conforma com essa restrição e rebela-se de forma subtil: aprende a andar com a ajuda do seu amigo Abdullah, e inscreve-se no concurso corânico tendo em vista o aliciante prémio monetário final, que lhe permitiria concretizar o seu sonho. Empreendedora, corajosa e determinada, Wadjda conseguiu vencer. Ao revelar a sua intenção sobre o destino daquele dinheiro – comprar a desejada bicicleta verde -, o seu sonho foi esmagado pela diretora da escola, que achou inconcebível aquele desejo. O dinheiro foi doado à Palestina.
Fora da ficção (embora seja um cinema de denúncia das condições de vida reais das mulheres sauditas), soubemos recentemente da atribuição do prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento a Mahsa Amini e ao movimento Mulher, Vida e Liberdade. Recorde-se que Mahsa foi vítima de agressões até à morte, perpetradas pela polícia moral iraniana, por não usar corretamente o hijab e deixar o cabelo à vista. Na cerimónia de entrega do prémio a título póstumo, os seus familiares não puderam ir recebê-lo, pois foram impedidos de sair do país.
Este ano, o Prémio Nobel da Paz foi atribuído à ativista iraniana Narges Mohammadi pela sua luta humanitária não-violenta pela liberdade e contra a opressão das mulheres no Irão. Uma vez que está presa, condenada a várias décadas de prisão e 154 chicotadas, foram os seus filhos gémeos de 17 anos que leram a declaração por ela enviada. Simbolicamente, o seu lugar ficou vazio em Estocolmo. No seu comunicado, reforça que nunca deixará de se bater para que a democracia, a liberdade e a igualdade se cumpram no seu país. A sua luta priva-a dos seus filhos e eles crescem sem a presença da mãe. No entanto, a sua resistência lança uma semente que um dia se tornará uma árvore. Sob ela florescerão as futuras gerações, à sombra da liberdade.
Estas três mulheres, Wadjda, Mahsa e Narges, não puderam receber o seu prémio, que constitui o devido reconhecimento de todos nós pela sua coragem. Mas, apesar da ausência, a sua presença é avassaladora.
Os alunos do 3ºTIS