Sugestões de Leitura
A Dama Roubada
Florença, 1479. Bellina Sardi, órfã e ama de Lisa Gherardini desde a infância, é incumbida de a acompanhar aquando do seu casamento com um comerciante de seda, um homem próspero e fiel aliado dos poderosos Médicis. Mas, Bellina é apanhada no meio das convulsões sociais da cidade. Tem de escolher entre a família que a acolheu e o carismático monge que incentiva os florentinos a revoltarem-se contra os Médicis e a riqueza obscena que acumulam. Leonardo da Vinci anseia por fazer arte, mas é confrontado com a necessidade de sustentar o seu estilo de vida luxuoso aceitando comissões. Considera que pintar a mulher de um homem rico não dignifica o seu talento, mas não tem outra opção. Começa assim a obsessão que o acompanhará toda a vida.
França, 1939. Paris está mergulhada no caos da ocupação alemã. A jovem Anne, arquivista novata e recém-chegada ao Louvre, é incumbida de manter as obras de arte fora do alcance do inimigo. No museu, todos sabem que estão a pôr as suas vidas em risco ao iludirem os Nazis, mas o amor pela arte e a ânsia de liberdade e justiça falam mais alto. Anne e os seus colegas movem freneticamente a Mona Lisa e outros tesouros de castelo em castelo, um pouco por toda a França. Mas, à medida que o inimigo se aproxima, Anne começa a desconfiar que o segredo para salvar o último reduto de dignidade de um país pode estar, afinal, na sua própria família.
Mulherzinhas
Para a pausa natalícia, deixo como sugestão de leitura a obra Mulherzinhas, de Louisa May Alcott. Publicado em 1868, nas suas páginas, acompanhamos a vida das irmãs March: Meg, Jo, Beth e Amy, enquanto enfrentam os desafios da Guerra Civil Americana. Cada uma representa um retrato multifacetado da experiência feminina e da busca pela realização pessoal.
O que torna Mulherzinhas tão especial é a sua simplicidade comovente e a universalidade dos seus temas. Através das protagonistas, o leitor é convidado a refletir sobre questões como a ambição, a perda, o amor e o papel das mulheres numa sociedade muito conservadora e opressora. Meg, com sua busca por estabilidade e desejo de cumprir os papéis tradicionais, contrasta com Jo, a irmã rebelde e aspirante a escritora, que desafia convenções e luta pela sua independência. Beth, com sua bondade angelical, e Amy, com sua ambição artística e vaidade, completam o grupo, oferecendo uma visão ampla e profundamente humana das diversas formas de viver e de sonhar.
A beleza de Mulherzinhas está na forma como Alcott combina momentos de doçura e ternura com lições duras sobre a vida. Embora o livro possa parecer, à primeira vista, um relato simples de uma família de classe média a viver um período conturbado, transmite uma complexidade emocional que cativa o leitor. A narrativa deixa transparecer que, mesmo em tempos difíceis, há espaço para a alegria, a união e a superação.
Além disso, a obra é uma celebração do feminino. Alcott criou personagens femininas ricas e multidimensionais, que não correspondem a estereótipos. As protagonistas são mulheres reais, com falhas, desejos e uma força admirável. É impossível não nos identificarmos com uma delas ou não nos comovermos com as suas vulnerabilidades e triunfos.
Mulherzinhas é uma obra sobre o poder da família, da amizade e da luta por um ideal. Mais do que um romance de época, é um convite à reflexão sobre os valores que realmente importam. Ler Mulherzinhas é como reencontrar velhos amigos: um abraço reconfortante e uma lembrança de que, mesmo nos momentos mais difíceis, há beleza na simplicidade e força no amor.
Espero que gostem ! Boas Festas com muitas leituras…
Prof. Elsa Campos
A breve vida das flores
A capa e o título deste livro fazem lembrar aqueles romances que contam histórias sentimentais e românticas, de leitura leve e fácil, geralmente com finais previsíveis e felizes, os chamados “livres à l’eau de rose” em francês… Nada disso!!!
Se não me tivessem aconselhado a sua leitura, talvez nunca teria lido.
“A Breve Vida das Flores” é um romance comovente e profundo, que proporciona uma reflexão sobre a finitude da vida, o legado que deixamos e como as pessoas lidam com a ausência.
Esta é a história de Violette Toussaint, a protagonista, guarda de cemitério numa pequena vila de Borgonha, personagem sofrida que conhece a rejeição, o luto e o abandono. Mas também é a história de encontros e resiliência. É uma grande lição de humildade e de vida que descobrimos neste livro. Violette é um exemplo de simplicidade. Essa combinação de tristeza e esperança oferece um equilíbrio que torna a leitura inspiradora e reconfortante.
A escrita de Valérie Perrin é sensível e repleta de imagens poéticas, o que torna a leitura uma experiência estética envolvente. O seu estilo rápido, rítmico e fluido assim como a forma como ela descreve as emoções e os cenários faz o leitor mergulhar completamente na narrativa.
Ao longo do livro, segredos do passado de Violette e das pessoas ao seu redor são revelados gradualmente, criando uma camada de suspense emocional. Esse elemento provoca a curiosidade do leitor, que deseja desvendar as peças deste quebra-cabeça humano.
Quando acabamos de virar as páginas, quase lamentamos que a história termine ali… teríamos continuado mais um pouco… queremos reler… isto não me acontece muitas vezes!…
Misericórdia
Quando vi pela primeira vez o livro, atraiu-me o título: Misericórdia. Incapaz de parar o pensamento – não há machado que lhe corte a raiz – logo meditei que esta palavra, que junta as palavras latinas miseris e cordis, resulta em algo tão belo como “ sentir compaixão no coração”. Parece ser uma palavra que caiu em desuso, embora o que me inquiete não seja a falta de utilização por si só, mas antes a inexistência dos atos a que dá nome. Logo recuei neste triste pensamento quando me assomou à mente a palavra “empatia”.
Cativou-me também a capa e a autora Lídia Jorge, um dos grandes nomes da literatura contemporânea. Estes argumentos, aliados aos inúmeros prémios que o romance tem recebido cá e lá fora, foram decisivos para iniciar a leitura.
Devo dizer-vos que Misericórdia vale mesmo a pena! A ação decorre no Hotel Paraíso, um lar para idosos onde se encontra a inesquecível D. Alberti e muitas outras personagens, umas residentes, outras que são visitas, e ainda aquelas que lá trabalham. Todas transportam em si muitas histórias, e, através delas, aquele local fechado enriquece-se com uma multiplicidade de relações humanas, afetos, desafios, preconceitos, dificuldades, que existem no mundo cá fora. Lá dentro (ainda) há lugar para o amor, por exemplo! Quando chega ao lar o Sargento João Almeida, agarrado ao seu tripé, mas ainda um homem vistoso e másculo, há corações que palpitam! Somos, na verdade, convidados a entrar naquele microcosmos, cujas dinâmicas nos levam a refletir sobre o nosso entendimento da velhice. Tocou-me particularmente o facto de a D. Alberti se deslocar de cadeira de rodas e haver funcionários que a transportavam de um sítio para o outro sem sequer lhe dirigirem uma palavra. Chegada ao destino, ali ficava sem que o seu benfeitor se tivesse sequer identificado. E quando nos momentos bons ela “enchia as algibeiras da alma” para fazer face a futuros momentos de desânimo? E a Lilimunde, que veio do Brasil e que ainda tem uma dívida enorme a pagar a quem a trouxe até ao nosso país? E o magrebino que tinha uma sensibilidade enorme ao cuidar daqueles corpos já doridos e marcados pelo tempo? E a filha da D. Alberti, que escreve livros sobre coisas simples, “faz amor com o mundo”, mas que não vê o reconhecimento da Mãe, para quem um livro deve ser volumoso e sobre coisas importantes.
A cada virar de página, encontramos verdadeiras pérolas de sabedoria, a(s) história(s) convocam-nos para muitas reflexões sobre a nossa própria vida e a forma como nos relacionamos com os outros. Também nos faz sorrir e às vezes até dar uma gargalhada e, garanto-vos, há sempre algo que nos agarra à história. Ao terminar a leitura é que vão sentir que fizeram uma viagem literária memorável.
Ah! E existe na nossa biblioteca!
Enquanto houver estrelas no céu
E quando descobrimos que, durante toda a nossa vida, estivemos enganados em relação aos nossos antepassados? Que, afinal, a nossa geração começou num país em guerra e não na região onde estávamos a viver? Que um AMOR pode durar anos, mesmo pensando que essa pessoa está morta, quando o seu coração lhe indica o contrário?
Foi o que aconteceu a Hope, uma pasteleira que herdou o seu negócio da sua avó Rose, em Cap Cod.
Rose, uma rapariga Judaica, jovem e apaixonada, casou-se às escondidas com Jacob. Quando começou a guerra entre os nazis e os judeus, o pai de Rose não quis fugir para não ser preso, mas Rose acabou por fugir com a ajuda do seu amor, pai do filho que ela estava à espera. Fizeram a promessa de se encontrarem junto à estátua no jardim onde tiveram o seu primeiro encontro, quando a guerra terminasse.
Durante anos Rose escondeu todo o seu passado, construindo uma nova família em Cap Cod.
Já com a idade avançada e a sofrer de Alzheimer, Rose, num dos seus momentos lúcidos, deu uma lista de nomes a Hope para ela ir até França e procurar essas pessoas.
Decidida a cumprir o que a avó lhe pede, Hope começa então a perceber que os seus antepassados são judeus e que as histórias de princesas que a avó lhe contava em pequena eram, sim, a descrição do amor que tinha vivido e a promessa que tinha feito ao amor da sua vida. Hope acaba depois por encontrar Jacob no jardim junto à estátua onde tinha sido anos antes marcado o encontro entre Rose e Jacob.
O Rei do Volfrâmio
As guerras da primeira metade do século XX causaram morte, dor e destruição mas também enriqueceram muitas pessoas, por exemplo os volframistas. Portugal foi um dos principais exportadores de volfrâmio durante a Guerra Civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial.
O investigador João de Deus encontra-se no presente a fazer uma tese de doutoramento sobre o enriquecimento súbito dos volframistas e a sua queda na penúria do pós-guerra. Mergulhado numa perturbada vida amorosa, este professor investiga o percurso de Petrónio Chibante, o Rei do Volfrâmio, explorador da mina Paraíso, em Vilar das Almas. O doutorando acaba por descobrir em Chibante um “minério raro”…
João Boa Morte também é de Vilar das Almas, mas emigrante em França, desenraizado aqui e lá. Ao seu cuidado, morre lentamente a tia-avó Serafina Amásio, solteirona que, antes de a sua alma se libertar do corpo em França, vai convocar o passado de forma estranha. E a tia Serafina tem de voltar a Portugal para ser sepultada, numa epopeia pícara que só um João português poderia maquinar…
O romance O Rei do Volfrâmio apresenta um passado histórico desconhecido por muitos de nós. Numa escrita ora comovente ora cómica ora séria, é a saga de um certo Portugal, cujas almas se alimentam de orgulhos duvidosos e portanto incapazes de se fortalecerem para futuro. Passado, presente e futuro cruzam-se, para levar o leitor a reviver os amores e desamores de cada época. A paixão e a racionalidade, a fraqueza tornada força, o amor e a traição nas suas mais variadas formas, sem dúvida sempre coexistiram e coexistirão nos homens e mulheres. Este lugar recôndito de Vilar das Almas é porventura o mundo inteiro.
Manhã e noite
Em 2000, Jon Fosse, atual Prémo Nobel da Literatura, publica, em nynorsk, língua minoritária das montanhas do Oeste norueguês, uma novela poética e musical, em dois andamentos salientados pelo título, Manhã e Noite, isto é, início e fim, nascimento e morte.
De facto, em pouco mais de cem páginas, o autor condensa a existência do protagonista, Johannes, desde o momento em que, “enquanto Marta a mãe grita de dor, ele virá ao mundo frio e aí ficará só, separado de Marta, separado de todos, aí ficará só sempre só”, até à altura da despedida, “quando tudo terminar, quando a hora dele chegar”. Então, “desvanecer-se-á e tornará a ser nada e regressará ao lugar de onde veio, do nada para o nada, é esse o trajeto da vida, das pessoas, dos animais, das aves, dos peixes, das casas, dos barcos, de tudo quanto existe”.
Neste avançar fluido, em harmonia com a natureza e traduzido por um estilo melódico, marcado por repetições e por uma pontuação sui generis, algo imprevisível, um pouco à maneira de um certo Saramago, o leitor descobre a beleza melancólica da rotina quotidiana de um velho solitário que se despede de um mundo onde imperam “a palavra e o espírito de Deus”, mas onde também opera “a vontade de Satanás”. Leve e numa atitude de despojamento, deixa-se, assim, conduzir por Peter, amigo de longa data, falecido há anos, que, tal o barqueiro sombrio, o transporta, por mar, para um ambiente de serenidade, de leveza, de luminosidade e de silêncio, onde as palavras se tornam desnecessárias e onde se cruza apenas com o que amou. Como lhe diz o velho amigo, “Tudo o que amas está lá, tudo o que não amas não está lá”.
No momento da passagem, nesse limbo onde alternam realidade e fantasia, obscuridade e luz, quando a cronologia deixa de fazer sentido e o inverno se confunde com o verão, o mar com o céu, quando os vivos do presente convivem, serenamente e sem angústias, com as sombras fantasmagóricas do passado, acentuam-se as eternas interrogações metafísicas próprias do ser humano sobre a existência, a dor, a solidão, a perda, a divindade, a amizade, a morte, o amor…
É nesse universo encantatório, atravessado por um certo misticismo, que Jon Fosse convida o leitor a mergulhar, graças à aparente simplicidade de uma prosa poética que embala.
O ódio que semeias
Starr, uma jovem negra de 16 anos, vive entre dois mundos: o seu bairro periférico e problemático, habitado por negros como ela, e a escola que frequenta numa elegante zona residencial de brancos.
O choque entre estas duas realidades acontece quando Starr testemunha algo que ninguém deveria… a morte do seu melhor amigo Khalil às mãos de um polícia.
Desde então, Starr recebe ameaças de morte: tudo o que ela disser acerca do crime que presenciou pode ser usado a seu favor por uns, mas sobretudo como arma por outros.
Uma história que retrata a luta contra o racismo, inspirada pelo movimento Black Lives Matter e pela luta contra a discriminação e a violência.
Agradecemos a presente sugestão de leitura ao aluno Lucas Oliveira, do 1º TCM.
O nosso irmão
À luz dos olhos de três irmãos, vamos descobrir a história de uma família diferente, abalada pelo nascimento de uma criança, “uma criança de olhos bem negros, que se perdem no vazio; uma criança sempre deitada, com bochechas rosadas e pernas translúcidas, nas quais se veem pequenas veias azuis; um bebé com um fio de voz puro e feliz, pés arqueados e palato elevado – um bebé eterno, uma criança inadaptada que traça uma linha invisível entre a família e o resto do mundo“.
Cada capítulo do livro é dedicado a cada um dos irmãos, mostrando o percurso desta família que se vai tentando adaptar e que, muitas vezes, parece desabar perante a fatalidade da diferença, mas que resiste contra tudo e contra todos.
É uma excelente leitura que mexe connosco e que nos leva a perguntar “O que é ser normal?”. É um livro sobre as relações humanas, sobre o amor, sobre os afetos involuntariamente desiguais, um livro que mostra que a carência emocional pode deixar marcas para o futuro.
Celebrou-se no passado dia 3 o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. Fica a sugestão de Leitura a assinalar a ocasião. Boas Leituras!