Revisitar a obra de Orwell “1984” à luz do Referencial de nível secundário de Educação de Adultos
No dia 21 de janeiro 2020, demos início ao nosso projeto: Leituras com Arte – Ler + Qualifica com a exibição do filme 1984, baseado no romance de George Orwell (1949). Numa articulação com o Referencial de Competências-chave de nível secundário, pretendeu-se, proporcionar aos adultos em formação no nosso Agrupamento a aventura do encontro com os livros. Partilhamos hoje um dos resultados desta iniciativa que muito nos enche de orgulho. Propomos-lhe o revisitar da obra de Orwell pelos olhos do candidato do processo de RVCC, Jorge Ferreira.
“O romance “1984”, de George Orwell, publicado em 1949, do qual resultou um filme, marcou a minha adolescência a par das obras de Huxley e Kafka. Nele funde-se o regime ficção e a realidade dos totalitarismos europeus da altura.
Na obra, ninguém consegue escapar ao olhar constante do Big Brother, cuja imagem é difundida por toda a parte. Em Portugal, a figura de Salazar, tal como o Big Brother é o Grande Salvador da Pátria, uma espécie de figura epopeica, o único capaz de solucionar os problemas da nação fortemente hierarquizada, impondo desta forma, o culto ao líder.
Os regimes totalitários partilham um elemento comum na sua origem: uma grande crise económica. Nestes cenários caóticos, as figuras autoritárias são eleitas e acumulam todos os poderes, como única solução radical. O populismo ganha força, através de fomentação de ódios a determinadas categorias sociais e de um complexo sistema de propaganda, pensado para controlar a capacidade de questionamento. É anulada a liberdade de expressão, através de mecanismos de censura, a vida pública sofre uma enorme repressão e o acesso à educação fica reservado sobretudo às elites.
Em Portugal, entre 1945 e 1969, a Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE), foi responsável por uma enorme repressão individual. Na obra de Orwell, podemos compará-la com a Polícia do Pensamento, perseguindo pessoas por denúncias, recorrendo à tortura como meio de obter informações, sendo também responsável por diversos assassinatos.
Tal como na obra de Orwell, em Portugal, a União Nacional, era o partido único, uma vez que a oposição era fortemente perseguida e reprimida. Este partido era também responsável por uma retórica violenta contra supostos “inimigos internos” que contribuem para a degradação moral da nação. Através da censura, tanto na esfera cultural, como no ensino, à semelhança da obra de Orwell, o Ministério encarregava-se de censurar a história, reescrevendo constantemente os factos do passado. Também o Estado Novo atribuía uma enorme importância à propaganda, criando em 26 de outubro de 1933, o SPN – Secretariado da Propaganda Nacional, com o intuito da divulgação do ideário nacionalista a na padronização da cultura e das artes do regime.”
Jorge Ferreira – Candidato do Processo RVCC de nível secundário
Admiro pessoas que passam pela vida procurando fazer o bem. Já no processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, numa sessão de Cultura, Língua e Comunicação, tive ocasião de conhecer Aristides de Sousa Mendes através da obra “Aristides de Sousa Mendes – Memórias de um neto” de António Moncada Sousa Mendes.
Nascido a 19 de julho 1885, em Cabanas de Viriato, pertencia a uma família católica da Beira Alta, mudando-se para Lisboa em 1907, após a licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra. Enveredou pela carreira diplomática, ocupou diversas delegações consulares pelo mundo, como Zanzibar, Guiana, Brasil, Estados Unidos da América e Espanha.
No início da II Guerra Mundial, Salazar foi nomeado cônsul em Bordéus, França. Foi o início da história mais importante para ele. Em plena Segunda Guerra Mundial, à medida que recrudescia a ameaça e a perseguição de milhares de Judeus por toda a Europa, milhares de refugiados judeus, em Bordéus, reuniam-se em frente aos consulados de Portugal e de Espanha, em busca de vistos para escapar a uma morte certa. Espanha negou os vistos aos refugiados judeus e a única esperança residia no consulado português.
A“Circular 14”, emitida pelo governo português,então chefiada por António de Oliveira Salazar, ordenava a suspensão de vistos aos refugiados, explicitamente Judeus e Russos, mas Aristides tomou uma decisão: iria emitir vistos sem distinção de raça ou religião.
Aristides Sousa Mendes teve a coragem, de assumir, sofrendo as consequências políticas, a defesa intransigente dos direitos de milhares de refugiados judeus. Em vez de ser premiado foi demitido da função de cônsul despromovido à categoria inferior, perdeu o direito de exercer advocacia. Foi obrigado a vender tudo para pagar as dívidas e sobreviver com dificuldade com sua mulher e os seus 12 filhos, nunca lhe sendo reconhecida bondade dos seus atos em vida, morreu a 03 de abril de 1954.
Não sei se eu teria sido capaz de ter o mesmo gesto, mas sei que numa ocasião em que me vir confrontada com uma decisão difícil a tomar, irei pensar na coragem deste homem. Devemos muito a grandes homens como este que não olharam ao que iriam perder para salvar vidas humanas.
Susana Paiva – Candidata do Processo de RVCC de nível secundário