“Goliath” – Recomendo


Nesta reentrada do novo ano letivo, venho desejar-lhes as melhores aspirações escolares e compartir convosco, um filme/documentário que despertou a minha atenção durante o recente período de veraneio.

“Goliath” é um filme coescrito e realizado por Frédéric Tellier e estreado em 2022. O seu nome inspira-se nas personagens bíblicas David e Golias, um soldado judeu de estatura muito pequena em luta contra o gigante do exército Filisteu que queria dominar Israel. No caso do filme em análise, temos o cidadão comum versus o gigante económico e os seus lucros.

Baseado em factos reais, o filme centra-se numa investigação feita sobre o Glifosato, um herbicida potente no combate às ervas daninhas, mas muito prejudicial para os restantes seres vivos e para o meio ambiente. Descreve-nos a luta dos agricultores, que após décadas de utilização do referido produto, viram as vidas destruídas por diversos problemas de saúde e, que, em muitos casos culminaram na morte. É então, que um pequeno grupo de agricultores afetados decide levar perante a justiça o colossal grupo empresarial Monsanto detido pelo grupo Bayer que tem estado envolvida, ao longo dos anos, em escândalos relacionados com a saúde e ecocídio, por todo o planeta.

“Goliath” é uma estória, contada na primeira pessoa que nos revela como se desenvolvem e aprovam todos os dossiers mais ou menos importantes para a nossa vida quotidiana. Denuncia os meandros da UE, os lobbies, os procedimentos até sair uma nova norma. Descreve-nos até ao pormenor mais sórdido e inimaginável aquilo que estão dispostos a fazer determinados grupos económicos com o único propósito de garantir os ingressos dos seus acionistas. O Meio Ambiente e o próprio Ser Humano tornam-se absolutamente descartáveis e de segundo plano quando um valor mais importante se interpõe: o lucro!

João Ribeiro – Ex canddidato do processo de RVCC

“1984” de George Orwell – Ler+ Qualifica


No processo RVCC, tive a oportunidade de visionar o filme “1984”, uma adaptação cinematográfica do livro Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (no original, Nineteen Eighty-Four), romance distópico da autoria do escritor britânico George Orwell, publicado em 1949.

São inevitáveis as semelhanças entre o regime do romance “1984” e o regime nazista de Adolf Hitler (Alemanha 1934-1945). Por exemplo, tal como na Alemanha nazista, em que genericamente os judeus eram culpados de todos os problemas sociais e económicos, no filme, Goldstein é o inimigo do partido e, como tal, inimigo de toda a população.

Essas semelhanças são também transversais aos regimes fascistas, que vigoram ou vigoraram na Europa à data da publicação do romance (1949), tais como o de Benito Mussolini (Itália 1925-1943), de António Oliveira Salazar (Portugal 1933-1974), e Francisco Franco (Espanha 1938-1973). Do meu ponto de vista, este romance critica todos os regimes totalitários que sejam contra o livre arbítrio e liberdade de expressão, ou seja, que sejam uma ameaça à Democracia.

Creio que não será despiciente dizer que a inspiração para o personagem Big Brother, vem de Adolf Hitler:Lançado a 10 de outubro de 1984, sob a direção de Michael Radford, tem como intérpretes nos papeis principais John Hurt (Winston Smith), Suzanna Hamilton (Julia) e Richard Burton (O’Brien). Rodado em Londres e arredores, entre abril e junho de 1984, exatamente nos meses e locais imaginados por George Orwell, tenta ser uma adaptação fiel do livro, captando o ambiente, tanto a nível físico como psicológico, imaginado pelo autor do romance.

A ação desenrola-se no ano futuro de 1984, ficcionando uma Inglaterra futura chamada Oceânia, uma das três partes em que se divide este mundo que se encontra em estado de guerra perpétua. Esta sociedade vive subjugada à tirania ostensiva e omnipresente do Big Brother (Grande Irmão), líder do partido governante Ingsoc, acrónimo de English Socialist Party (Partido Socialista Inglês). Apesar de nunca ter sido visto pessoalmente, tem um olhar inquisitivo e punidor, um farto bigode preto e um rosto que inunda as telescreens, uma espécie de televisor bidirecional com que vigia constantemente a população.

O individualismo e a Liberdade de expressão são punidos como “crime de pensamento”, aplicada pela “Polícia do Pensamento”, que é controlada pela elite privilegiada do Partido Interno, uma fação do Partido Ingsoc. A própria linguagem é controlada pelo governo, através da publicação do dicionário Novilígua, tornando a sociedade inexpressiva e submissa.

“Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado.”

A ação centra-se na personagem de Winston Smith, um humilde funcionário do Partido Exterior, outra fação do Partido Ingsoc, que trabalha no Ministério da Verdade. Este é responsável por reescrever a história e, o que não pode ser reescrito, é destruído de modo a apoiar a ideologia e a propaganda do regime.

Guerra é Paz. Liberdade é Escravidão. Ignorância é Força.”

Apesar de ser um trabalhador diligente, Winston Smith começa a aperceber-se que a sociedade não está bem, não existe qualquer tipo de liberdade de expressão e livre-arbítrio. Escondido do olhar atento do Big Brother, vai anotando num diário secreto estes seus pensamentos.

Ao aproximar-se de Julia, que tem o mesmo espírito contestatário, o amor desenvolve-se entre ambos e um perigoso caso clandestino começa. O casal ilícito rapidamente é descoberto e têm que pagar pelo seu crime contra o estado. Presos e torturados, não resistem.

Liberdade é a liberdade de dizer que dois mais dois são quatro”

Torturado por O’Brien, Winston Smith é forçado a acreditar que tudo o que ele percebeu sobre as mentiras contadas pelo partido, eram apenas coisas criadas por ele mesmo. Ele tem que acreditar naquilo que o partido diz e que, dois mais dois são cinco, se o partido assim o disser.

Luis Vilhena – Candidato do Processo RVCC – NS

Ler+ Qualifica – 10 minutos a ler


“Eu quero aprender a ler e a escrever melhor” é a frase que ouço repetidamente no Centro Qualifica.

As vicissitudes da vida levaram muitos dos nossos candidatos para bem longe dos bancos da escola onde tiveram que aprender a crescer rapidamente.

Afastados do mundo dos livros e dos cadernos, é com muito entusiasmo que regressam à escola para adquirir os saberes que lhes proporcionarão mais segurança, mais conhecimento e uma melhor qualificação.

Tendo deixado a escola do primeiro ciclo ainda muito jovens, por motivos bem díspares, alguns candidatos retomam, no processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, a leitura já um pouco “adormecida”. Com persistência e muita força de vontade, é gratificante observar os progressos na leitura que deixou de ser um simples balbucio e hesitação para dar lugar a uma voz confiante que projeta palavras bem articuladas.

Estes “10 minutos a ler” proporcionam aos nossos candidatos momentos agradáveis de fruição estética, dando asas à imaginação e à criatividade.

Como disse Mário Quintana “Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.”

Gina Ribeiro – Formadora de Cultura, Língua e Comunicação

Missão Saramago


Foi sob o tema Missão Saramago que, no dia 11 de fevereiro de 2022, os 25 candidatos do processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC), certificados em 2021, aceitaram o convite para desfilar pela passadeira vermelha e receberem o seu diploma.

Juntando a celebração da conquista da certificação de nível básico ou secundário com a celebração dos 100 anos do nascimento do escritor José Saramago, procurámos desafiar os sentidos e estimular a reflexão dos candidatos sobre os grandes diálogos do nosso tempo à luz da obra do nosso Prémio Nobel da Literatura.

Com um momento musical proporcionado pelo Ensemble de Clarinetes da Filarmónica Artística Pombalense, um momento de leitura animada pela coordenadora da Biblioteca Escolar, Fernanda Gomes, e um Escape Game, fomos entrando um pouco na lucidez de José Saramago que denuncia a cegueira humana num mundo pejado de informação irrelevante.

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

Epígrafe de Ensaio sobre a cegueira

Cristina Costa – Coordenadora do Centro Qualifica

 

Missão Saramago

Celebrar o Dia Mundial do Livro na Biblioteca com “O Carteiro de Pablo de Neruda”.


Metáfora, homem!
– Que coisas são essas?
O poeta pôs uma mão no ombro do rapaz.
– Para te esclarecer mais ou menos imprecisamente são maneiras de dizer uma coisa comparando-a com outra.
– Dê-me um exemplo.
Neruda, olhou para o relógio e suspirou.
– Bem, quando tu dizes que o céu está a chorar, o queres dizer?
– Que fácil! Que está a chover, pois.
– Bem, isso é uma metáfora.
– E porque é que sendo uma coisa tão fácil, se chama uma coisa tão complicada?
– Porque os nomes não têm nada a ver com a simplicidade ou complicação das coisas. Segundo a tua teoria, uma coisa pequena que voa  não deveria ter um nome tão comprido como mariposa. Pensa que elefante tem o mesmo número de letras que mariposa e é muito maior e não voa – concluiu Neruda exausto. Com um resto de ânimo, apontou a Mário o caminho da calheta. Mas o carteiro ainda teve a presença de espírito para dizer:
– Poça, como eu gostava de ser poeta!

António Skármeta, in O carteiro de Pablo de Neruda (Ardente Paciência)

Encontro com Histórias de Vida – Ler em Voz Alta


Desafiados a juntarem-se a uma campanha internacional de promoção da leitura, Europe Reads, os candidatos do processo RVCC , elementos da equipa técnico-pedagógica e a coordenadora da BE realizaram  atividades de leitura em voz alta e produziram gravações de excertos de obras em português, francês e inglês.

Ler em Voz Alta é o Encontro com a História de Vida de um jovem carteiro que aprende com Pablo de Neruda a arte da poesia; de um automobilista que no meio de um engarrafamento descobre que está cego; de uma família francesa que opta pelo silêncio como forma de resistir ao ocupante alemão no contexto da segunda guerra mundial; de uma criança com leucemia que reinventa o Mundo sob a maravilhosa cor de fantasia; de crianças judias que partilham páginas dos seus diários durante o período do Holocausto; de um membro do Partido Externo, que trabalha para o Ministério da Verdade, e é responsável pela propaganda e pela reescrita da história; de um pequeno príncipe que vindo de outro planeta aprende como é fácil equivocar-se sobre a aparência das coisas e das pessoas; de um caracol que nos tansporta para a luta pela liberdade e o ultrapassar de barreiras; de um adolescente sírio que enceta  uma longa viagem até à Alemannha…

Junte-se a nós no Encontro com Histórias de Vida e prepare-se para um Quiz sobre estas partilhas de leitura!

Cristina Costa – Coordenadora do Centro Qualifica

SMAL – Conferência de Encerramento da Iniciativa Nacional


A Associação Portuguesa de Educação e formação de Adultos, APEFA  promove e convida a assistir, na próxima segunda-feiradia 19 de outubro, das 14:30 às 17:30, à Conferência de Encerramento da Iniciativa Nacional“Setembro Mês da Alfabetização e das Literacias“.

Destacamos a participação do Senhor Secretário de Estado Adjunto e da Educação, Professor João Costa e da Comissária do Plano Nacional de Leitura, Drª Teresa Calçada, que refletidos caminhos e estratégias de EFA, literacias e Felicidade e de Liberdade, tão notoriamente requeridos nestes tempos atípicos e únicos que vivemos.

O evento é o corolário da Iniciativa Nacional de Educação e Formação de Adultos, “Setembro, Mês da Alfabetização e Literacias, que uniu Portugal, continente e ilhas, em redor de questões emergentes das literacias da leitura, da escrita e do digital, com centenas de eventos dinamizados pela maior diversidade de atores territoriais.

participação na  conferência é de acesso livre, transmitida  no site da APEFA (www.apefa.org.pt), ou no Youtube, https://youtu.be/TMictbtATyc 

 Deixamos o link de inscrição para os docentes que pretendam Certificação desta Conferência, para efeitos de progressão da carreira docente : https://bit.ly/2SYjM0G

 Brevemente, o Programa ficará disponível em www.apefa.org.pt

 

Armando Loureiro – Presidente da Direção Nacional APEFA

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Leituras com Arte no Centro Qualifica


“Leituras com Arte” foi o caminho escolhido no presente ano letivo no Centro Qualifica para despertar o gosto pela leitura, a sua capacidade mágica de nos fazer viajar de expandir o nosso mundo interno. Com atividades diversificadas, proporcionámos  aos candidatos do processo de RVCC e formandos do Curso EFA do nosso Agrupamento a aventura do encontro com os livros, suas personagens e autores.

Cristina Costa – Coordenadora do Centro Qualifica

 

” O largo” – Ler e recordar


Assinalando as festas do Bodo, partilhamos registo das memórias de um candidato do processo RVCC de nível secundário.

Numa sessão de Cultura, Língua e Comunicação, analisámos em detalhe o conto “O largo”, de Manuel da Fonseca. Cheio de simbolismo e riqueza, fez-me recordar esses tempos idos, mais saudáveis, mais simples, mais autênticos da minha infância numa aldeia bem perto da cidade.

Desde sempre, observei com atenção as suas raízes históricas, esse acervo de património do qual nos devemos orgulhar. Um Conde que um dia foi elevado a Marquês é sempre um nome que vem à mente por qualquer português quando se fala de Pombal. Muitos edifícios estão inseparavelmente ligados a este personagem. Todo o espólio tem sido bem cuidado e está disponível para quem quiser observar e aprender da história em especial no museu que leva o seu nome.

Assim, como no conto “O Largo”, hoje, o dia a dia das pessoas é incomensuravelmente diferente do que era no tempo dos meus pais, avós ou bisavós, com quem ainda privei até à idade dos dez anos. O centro da vila era o local também mais central, por graça também denominado Largo do Cardal. Durante a semana era em frente aos Paços do Concelho que havia a estação das “camionetas da carreira”, hoje denominamos os autocarros de passageiros, que “desaguava” toda a gente que vinha por esse meio até à cidade. Gente que trazia o seu melhor fato, muitas vezes com aspeto muito humilde, mas cuidavam da aparência sempre que se deslocavam à vila. Mesmo assim era notório pela forma de vestir, quem era do meio rural e quem era residente.

No conto, o comboio invadiu e “dinamitou” o Largo. Na vila de Pombal, o comboio sempre a atravessou, tendo também uma estação. Mas foi curioso, quando retiraram as cancelas no local onde a linha se cruzava com a antiga estrada de Leiria, um dos bairros típicos foi cortado, ficando durante muito tempo isolado do “lado de cá”. Mais segurança trouxe mais isolamento. Com o tempo, e depois da praça das galinhas ter dado espaço à feira semanal, este local veio a ganhar de novo vida.

Esta dita feira, ainda hoje é realizada em dois dias da semana, segunda e quinta-feira. Além de ser um espaço de vendas e negócio, muitas pessoas mantêm a velha tradição de guardar alguma coisa para comprar na feira. Se pensarmos nos artigos e itens que lá encontramos, facilmente os encontraríamos noutros espaços “quiçá” bem perto e em abundância. Era um tipo de negócio dispensável para os tempos que correm. Se pensarmos também no desconforto em dias de mau tempo, muitas vezes nem justifica “montar a barraca”. Mas mesmo assim, dada a importância de não deixar morrer a nossa identidade cultural, devemos todos manter o bom hábito de passar na feira e comprar qualquer coisa.. Tanto no passado como hoje continua a ser também um espaço de convívio. Dar dois dedos de conversa, revendo aquele vendedor, ou aquele fiel cliente com décadas de presença frequente é algo a preservar.

Uma das memórias que guardo bem vivas era de ir com o meu avô à vila à segunda-feira, dia de mercado. Como ele era sapateiro, muitas das entregas levava engenhosamente presas na parte de trás da bicicleta. Colocava-se num local estratégico perto da praça, e os clientes procuravam-no, ou para levar ou para entregar para arranjar durante a semana. Oito dias depois, iam ao mesmo local recolher. Lembro a conversa típica de velhos conhecidos, com sonoras palmadas nas costas e tratando-se uns aos outros com linguagem pouco polida. Mas riam-se, divertiam-se e percebia-se que eram felizes e sinceros. Enquanto isso, a minha avó dava as necessárias voltas com as comadres, para levar o avio para a semana, parando muitas vezes para conversar com familiares ou conhecidos de outras aldeias e que pelo mesmo motivo também andavam por ali. Perto das 13:00 horas encontravam-se para almoçarem juntos. O meu avô, já com uma dose considerável de copos bebidos, tantos quantos clientes apareceram naquele dia, mais uns quantos com uns esporádicos conhecidos. Na rua de Ansião, no local onde hoje é o restaurante “O Tirol”, havia uma tasca que servia refeições. À segunda-feira era ali, religiosamente. Havia um enorme braseiro para especialmente no verão, assar sardinha. Cada um assava as suas. Depois, com aquele molho a escorrer, aquela sardinha gorda a escaldar, era colocado num naco de broa. Lembro-me das gargalhadas e da satisfação com que eles comiam. O tinto sempre a “empurrar”. Muitos comiam de pé. As mesas eram insuficientes para aquela aglomeração de gente. Pelas 15:00, 16:00 horas, as mulheres regressavam com a cesta das compras à cabeça. Eram mais ligeiras no caminho de regresso. Eles já bastante “tocados”, vinham lentamente com passos pouco firmes encostados à bicicleta. Mas haviam de chegar. O dia estava feito.

Os mais bêbados, como o Ranito do conto, muitas vezes, ficavam numa valeta a recuperar quase em estado de transe, incapazes de regressar a casa. Muitas mulheres eram “obrigadas” a virem procurá-los, e passar por essa vergonha, ou então um amigo ou vizinho que, sensibilizado, fazia o favor. Dessas realidades tristes penso que ninguém tem saudades. Podem perder-se no tempo…

O domingo também era um dia de excecional movimento no Largo do Cardal. Em especial no período da manhã – a vinda à missa. Famílias inteiras da vila e também de muitas aldeias da freguesia, vinham cumprir a sua missão religiosa. Muitos maridos não ligavam tanto, ficando-se pelo espaço envolvente, enquanto a devoção da esposa na sua opinião serviria para espiar “os pecados” deles também. Muitos   hoje, já descobriram se foi boa opção ou não. Estavam muito concentrados no “sermão” da vendedora de pevides e tremoços. E com uma medida na mão, rumavam a uma “tasca” das redondezas porque aquilo “custava a descer”.

Na obra “O Largo”, as faias eram uma barreira e um abrigo natural, além de darem vida e serem protagonistas de tudo quanto se passava ali. Sem elas o largo não era “O Largo”. Fizeram lembrar-me os frondosos plátanos do Largo do Cardal. O novo projeto de requalificação incluiu o abate da maior parte deles. Foi uma tremenda perda. São décadas e décadas que uma árvore daquele porte precisa para se tornar assim. A vida que atrai, pássaros em especial, a sombra refrescante que proporciona, não podem de todo ser substituídas por coberturas de materiais sintéticos. Talvez neste ponto, os decisores tenham seguido o rumo errado.

No conto “ as suas lágrimas (de João Gadunha) molham o tronco carunchoso das faias.” No Largo do Cardal,  as suas lágrimas (dos plátanos abatidos) molharam as pedras da calçada, tornando-as frias e escorregadias, para sempre. Que todos os “plátanos” que sobreviveram possam molhar o chão e quem passa, com lágrimas de alegria, felizes, quais testemunhos silenciosos da vida daqueles que debaixo “das suas asas” vão passando…

João Domingues – candidato do Processo de RVCC – Nível Secundário