Manda a tradição que depois de uma sessão de júri de certificação seja publicado um post para divulgar este momento, refletindo sobre as aprendizagens realizadas, não só pelos candidatos, mas por todos os elementos envolvidos. Ainda bem que existem rotinas e padrões que permitem dar alguma previsibilidade a um mundo mutável e instável. Preservar e respeitar o conhecimento daqueles que nos precederam é um sinal de sabedoria, pois só assim podemos evitar a repetição dos erros passados e encontrar respostas mais rápidas para problemas no imediato. Contudo, não podemos cair na tentação de cristalizar os nossos hábitos. Mesmo que um inseto preservado em âmbar possa parecer belo ao primeiro olhar, neste processo ele perdeu a vida e capacidade transformadora da metamorfose. Assim é preciso dosear o respeito pela nossa história e complementá-la com análise crítica e criatividade, entendendo que aquilo que fez sentido num determinado momento, poderá não se enquadrar na realidade atual.
Neste sentido a primeira apresentação, inspiradas nas considerações de Yuval Harrari sobre os desafios tecnológicos na sua obra “21 Lições para o Século XXI”, fomentou a reflexão em torno do impacto que o desenvolvimento da Inteligência Artificial e de sensores biométricos poderá ter no mercado de trabalho. As potencialidades destas tecnologias são inegáveis, superando já o ser humano na sua capacidade de executar algumas tarefas de forma rápida, em permanente conexão com outros sistemas e atualização imediata. Mais preocupante se torna quando percebemos que a IA invadiu o espaço que se considerava exclusivo dos seres humanos, a cognição. Prevê-se que estas inovações constantes resultem no desaparecimento de profissões (principalmente aquelas que exigem menos habilitações) e no surgimento de equipas centauro, em que humanos e máquinas cooperaram para a realização de tarefas. Estas mudanças irão exigir atualização constante de conhecimentos e muita capacidade de gerir o stress, pois não é fácil viver com a dúvida: Será que a minha profissão ainda vai existir amanhã?
Já a segunda exposição partiu da história da China, tal como é relatada na obra “Cisnes Selvagens: Três filhas da China” de Jung Chang, para analisar questões da atualidade. Neste livro a narradora conta a história da sua família, três gerações de mulheres, evidenciando como as alterações políticas na China tiveram impacto na trajetória das suas vidas. As experiências da avó Daotai lembram-nos como a tradição pode ser usada para perpetuar desigualdades de género, quer seja através da prática do pé de lótus ou de casamentos arranjados. Não é porque “foi sempre assim” que é justo ou correto. Já a época da mãe Wu Chunrong corresponde ao período de ascensão do comunismo na China e implementação da ditadura. A falta de liberdade mantem-se até ao final da obra, sendo a razão que levou Jung Chang a emigrar. Ainda que com pequenas nuances e alterações estratégicas, a China continua numa ditadura, em que há vigilância e controlo da população. Se por um lado a diversidade de ideologias e culturas é favorável ao desenvolvimento e à evolução, por outro há situações que não são aceitáveis por porem em causa os Direitos Humanos (e.g. campos de reeducação).
Mikael Mendes – Técnico de ORVC
Na Era da Inteligência Artificial
Uma vez mais dou por mim a iniciar um post referindo a evolução tecnológica e a verdade é que ela é cada vez mais incontornável. A uma velocidade estonteante surgem novidades quase todos os dias e aquilo que há poucos anos pareceria mero produto de ficção científica, torna-se uma banalidade da atualidade. A este ritmo será tão estranho para a próxima geração uma realidade sem Inteligência Artificial (IA), como hoje é desconhecida a funcionalidade de uma disquete ou de uma cassete, sem falar de uma lista telefónica, para os mais jovens.
As preocupações com as consequências desta evolução não são novidade, pois mesmo antes da IA ser uma realidade, já existiam obras de ficção que pintavam os cenários mais pessimistas. Esperemos que Skynet de “O Exterminador Implacável” ou Viki de “I, Robot” permaneçam no sector do entretenimento. Se as opiniões se dividem quanto ao futuro que nos espera e não podemos apenas seguir as vozes dos “velhos do Restelo”, também não devemos assobiar para o lado e ignorar os riscos existentes. O mais importante será mantermo-nos atualizados, acompanhando os desenvolvimentos.
E é aqui que a educação desempenha um papel de destaque, incentivando à exploração destas novas ferramentas de forma responsável, soprando gentilmente para manter a brasa do espírito crítico acesa. Foi numa dessas lufadas que um dos candidatos do processo RVCC de nível secundário foi desafiado a fazer uma apresentação para a prova de certificação de dia 12 de dezembro de 2024, inspirada no livro “A Era da Inteligência Artificial” de Henry Kissinger, Eric Schmidt e Daniel Huttenlocher.
Na sua apresentação foram referidos os contributos de Alan Turing e John McCarthy para uma definição de IA e os principais marcos no desenvolvimento desta tecnologia. Analisando as razões pelas quais a IA ainda falha, reforçou a importância de existirem mecanismos de verificação da qualidade das respostas dadas. Concluiu a explorando os dilemas de recorrer a IA em três contextos diferentes, nomeadamente nas plataformas de rede, ao nível político ou para fins bélicos.
Mikael Mendes – Técnico de ORVC
Livres e Felizes
Vivemos na era da liberdade e da felicidade ou pelo menos é essa a realidade que nos é vendida. Se é verdade que muitos direitos foram conquistados e seria até de mau tom ousarmos comparar a atualidade aos tempos da escravatura ou mesmo da ditadura, também devemos reconhecer que ainda há um longo caminho a percorrer. Para sair das ilusões mais disseminadas é preciso usar as lentes da análise crítica, que só existem quando o espírito curioso não se contenta com explicações superficiais. É preciso mergulhar mais fundo, sendo que a literatura pode ser a botija de oxigénio necessária para alcançar a essência das coisas. Todos os géneros literários têm o seu propósito, sendo que na sessão de júri de certificação de nível secundário do dia 28 de novembro de 2024 as candidatas partiram de duas obras distintas para refletir sobre a liberdade e a dor.
A primeira apresentação baseou-se na obra “1984” de George Orwell, uma distopia de 1949 que promove a reflexão em torno das características dos regimes totalitários, nomeadamente a vigilância e a manipulação. Se a história narrada é ficcionada, algumas descrições aproximam-se perigosamente da realidade. O desconforto provocado por alguns episódios do livro tem o potencial de nos despertar para a atualidade e mover-nos para a defesa dos nossos direitos e liberdades.
A segunda exposição inspirou-se na obra “Sociedade Paliativa” de Byung-Chul Han publicada em 2020. Com uma escrita mais filosófica, o autor alerta-nos para o perigo de evitarmos a dor a qualquer custo (algofobia). Se noutras alturas a dor era usada para controlar a sociedade, por exemplo numa sociedade do martírio são usadas punições físicas e públicas para dissuadir comportamentos, na atualidade a dor é camuflada e incute-se a necessidade de ser feliz. Assim o chicote é retirado das mãos do carrasco e dado à vítima que se pune a si própria, através da autocrítica, por não conseguir ser feliz, ignorando o papel de fatores externos ou mesmo a volatilidade da felicidade. Assim a sociedade e a própria democracia tornam-se paliativas, com cada um focado no seu umbigo. A tolerância à dor vai diminuindo e o recurso à medicação aumenta, entorpecendo os sentidos e a conexão aos outros.
Somos mais do que um campo de Narcisos
A Grécia Antiga é profícua em reflexões filosóficas e contos mitológicos que continuam a influenciar a forma atual de pensar. Um dos mitos muito conhecidos é a história de Narciso, que relata a vida de um jovem extremamente belo e arrogante, que acaba por se apaixonar pelo seu próprio reflexo, morrendo à fome e sede por não ser capaz de se afastar da sua própria imagem. Esta narrativa alerta-nos para os perigos de sermos, como a flor narciso, demasiado focados no nosso próprio umbigo, sendo preciso levantar a cabeça e observar o mundo que nos rodeia para agir.
Foi imbuído deste espírito de missão que D. fez a sua apresentação para a prova de júri de certificação de nível secundário, no dia 21 de março de 2024, inspirado pelo livro “A Era do Nós: Propostas para uma Democracia do Bem Comum” de João Ferro Rodrigues. Este é um candidato que está ligado a movimentos associativos na área do desporto e, enquanto pai, reconhece a importância de transmitir aos seus filhos a responsabilidade de participar ativamente na construção do bem comum.
Na exposição teve o cuidado de defender o equilíbrio entre o individualismo e o coletivismo, fazendo o paralelismo com a sua experiência como treinador, em que estimula o desenvolvimento pleno das particularidades de cada jogador, potenciando a cooperação e o trabalho de equipa para o alcance de objetivos de grupo.
Terminou com a exploração de ações concretas a tomar para a promoção do bem comum, assentes num envolvimento efetivo na comunidade.
Este foi o momento de encerramento de mais uma etapa na vida de D., com uma clara vitória, que lhe permitiu levar para casa a taça, ou melhor, o certificado de 12.º ano. Mas esta foi apenas a fase de eliminatórias regionais que o irão apurar ao campeonato nacional, isto é, ao prosseguimento de estudos para uma Licenciatura na sua área profissional, para que possa conquistar o título por si desejado.
Mikael Mendes – Técnico de ORVC
Abrir Horizontes
No passado dia 22 de junho, mais uma candidata concluiu o seu percurso formativo de nível secundário no nosso Centro Qualifica.
Compreendendo que teria que “agarrar” a oportunidade que a vida lhe estava a dar, apesar de ainda jovem, foi com grande maturidade e dedicação que trilhou o seu caminho pelo processo RVCC, construindo de forma assídua e entusiasta o seu portefólio. Decidida a concluir o mais depressa possível, envidou todos os esforços para conseguir alcançar este seu objetivo que lhe poderá abrir novos horizontes a nível profissional e formativo. Se o investimento foi grande, os frutos também rapidamente foram surgindo e um deles foi o despertar do gosto pela escrita.
Concluída esta etapa, desejamos que o nível secundário seja a âncora para continuar a desbravar novos caminhos de aprendizagens olhando sempre cada uma delas como uma oportunidade para o crescimento pessoal e profissional.
Patrícia Amado – Técnica de ORVC
A vontade de (re)aprender
No dia 22 de dezembro, tivemos a nossa última sessão de certificação de nível secundário do ano de 2021. Cada um dos processos foi a oportunidade de conhecer interessantes histórias de vida e de testemunhar as conquistas que foram sendo feitas por cada um dos candidatos, nomeadamente no domínio das novas tecnologias, da língua estrangeira, da expressão escrita, e capacidade reflexiva.
Motivações e disponibilidades diferentes fizeram com que a construção dos seus portefólios decorresse a diferentes velocidades. Porém, todos chegaram ao seu destino: a certificação de nível secundário.
Temos consciência de que a construção de cada página que compõe os seus portefólios envolveu muito esforço e dedicação, sendo cada uma encarada como uma oportunidade de (re)desenhar os seus saberes.
A todos, os votos sinceros de muitos parabéns e desejos que continuem a abraçar todas as oportunidades de aprendizagem que a vida lhes oferece.
Técnica de ORVC – Patrícia Amado