Integrando a lista dos dez finalistas da 14ª edição do Concurso Literário (Co)Incidências, os alunos Sofia Ponte e Leandro Gonçalves, do 11ºE, foram disputar a final, na modalidade de poesia, no passado dia 7 de junho, na Escola Profissional de Aveiro, declamando de forma exemplar os seus textos “Quando, por coincidência, uma estátua se enamora” e “Não quero ser bonito, quero parecer como me sinto”.
É de realçar a solidariedade não só dos colegas de turma presentes na deslocação, bem como dos alunos Raquel Clemente (11ºE) e Marcelo Santiago (12ºE) que se disponibilizaram para enriquecer a dramatização, o que se traduziu em momentos altos que valorizaram o acontecimento.
Todos os preparativos e a própria prova pautaram-se por um trabalho intensivo caracterizado pela entreajuda e amizade, num percurso de aprendizagem único, com contributos múltiplos, pelo que cabe agradecer a todos os que direta/indiretamente o permitiram, e, em especial, à Direção do nosso Agrupamento, às professoras Ana Cristina Seco e Margarida Bandeira assim como à professora mentora Lídia Ribeiro.
Quando, por coincidência, uma estátua se enamora
De tarde, de dia e de noite,
De amarelo ou azul-escuro,
Nunca mais te vi.
Ao acaso foi
E, mesmo não sabendo
Quem o causou,
Sei que eu,
Parado no meu poiso eterno de mármore,
Assente num manto verde,
Queimado pelo Deus Sol,
Acariciado pela Musa Lua,
Que me acompanha nos tormentos
Da noite, com aqueles uivos e rugidos enervantes,
Estava sozinho…
Esperando ver uma miragem
Tua sorrindo,
Com as tuas vestes esvoaçando,
Roçando a balaustrada fria, maciça da varanda,
Nunca mais te vi…
Fiquei votado ao abandono,
Vendo todos os dias
A vidraça fechada, as portas imóveis
E as chaminés
Que nunca mais mostravam
Os seus cabelos grisalhos
A esvoaçar pelo ar.
O tempo parou.
Chegou com ela a solidão
E a morte.
As flores já não se perfumavam,
As árvores já não arranjavam
Os seus cabelos verdes
E a casa, cheia de discussões internas,
Lesionou-se e abriu-se a desgraçada.
E nem de propósito,
Com todos estes horrores,
Vieram os piores homens, cães, gatos,
Todos uns vagabundos
E insensatos.
Queriam abrigo
E, sem respeito, penetravam na casa
Como alguém que vai à latrina,
Sem coração, nem educação,
E eu, pálido e sereno,
Com a feição que me fizeram,
Nada podia desfazer.
Deixo-vos a casa destruída,
Com um resquício de esperança
Que voltasses,
Que a casa se voltasse a erguer.
Mas ia morrendo em sintonia com eles
Até que a casa se iluminou.
Com ela tudo mudou,
A chama ardente
Que começou
Tudo modificou, deixando-me a mim
Na possibilidade de regressares,
Mas, em sintonia ou não, com a chama.
Eu vi que foi por tua culpa
Em poucos segundos
As coincidências que vivi.
GEUM DAL (Leandro Gonçalves, 11ºE)
Não quero ser bonita, quero parecer como me sinto
Mãe, deixa-me ser rosa,
Sou tão azul e lilás
Que não sei por que cor me tomas.
Não é que não goste dos meus tons,
Mas preciso de me expressar,
Irradiar claridade,
E, se não me deixares ser rosa,
Que eu possa mostrar para o mundo
O meu roxo.
O azul acalma,
Não para mim…
Este desgasta.
Deixa-me só.
O branco não sou eu,
Por coincidência é de muita gente.
Não significa
Que me deva conformar.
Recuso-me a ser de papel
Mas, se assim continuar,
Não por culpa tua,
Talvez por azar,
Irei morrer azul.
Blue Crow (Sofia Ponte, 11ºE)