Em 2016 circulavam pelas redes sociais fotografias de uma obra de arte do artista mexicano Jorge Méndez Blake intitulada “O Castelo”[1]. Nesta, era construído um muro sobre o livro “O Castelo” de Franz Kafka, sendo visível o “desalinhamento” provocado por este elemento. Apesar de o nome da obra ser inspirado no título do livro usado, os internautas conhecem esta criação por “O impacto de um livro”, título da publicação nas redes sociais.
“O Castelo” percorreu o mundo, sendo exposto em vários museus, a última vez em Istambul em 2013. Este muro mostra-nos bem a forma como um objeto tão pequeno pode provocar mudanças tão grandes e significativas. Os livros têm o poder de abrir horizontes, estimular a imaginação, disseminar o conhecimento, desenvolver o domínio da língua, promover o pensamento crítico, entre tantos outros benefícios. Com uma vastidão imensa de possibilidades, existem estilos literários para todos os gostos e especificidades. A única certeza é que ninguém consegue ler numa vida tudo aquilo que já foi editado. O poder da literatura não é novidade, havendo vários períodos da história em que existiam livros proibidos por não estarem alinhados com as ideologias de quem governava.
Se há livros que ficam imortalizados, os reconhecidos clássicos da literatura, outros há que desvanecem com o passar do tempo. A qualidade de uma obra não depende apenas do seu conteúdo ou da forma como está redigido, a lente de quem lê, influenciada pela sua experiência prévia e personalidade, condiciona a mensagem que é retirada. Havendo várias leituras possíveis de um mesmo texto.
Para estimular este hábito, respeitando a subjetividade de cada um, tornou-se prática comum que as apresentações das sessões de júri de certificação de nível secundário assentem em livros. A sessão de 17 de julho não foi exceção.
J. sugeriu que a sua apresentação fosse inspirada nos Discursos e Homílias do Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ). Na prova destacou alguns marcos da história, mencionados na JMJ, nomeadamente os Descobrimentos e a Criação da União Europeia. Analisou também alguns desafios da atualidade à luz da ciência.
Já C. baseou a sua exposição no romance “Inferno” de Dan Brown, explorando a questão da sobrepopulação, analisando criticamente a teoria malthusiana e a teoria reformista. Concluiu enfatizando a importância da entreajuda e da compaixão num cenário de escassez de recursos.
Tal como a leitura é transformadora, também se espera que o processo RVCC tenha um impacto profundo a vários níveis. Dos mais óbvios, como o é a obtenção de um certificado para prosseguimento de estudo ou progressão na carreira, aos menos divulgados, mas atrevo-me a dizer ainda mais importantes, como são a exploração de novos conhecimentos e competências e o desenvolvimento da autoestima e autoeficácia. Com frequência assistimos à reestruturação dos candidatos para edificar um “muro” com alicerces mais fundos e estrutura mais robusta.
[1] https://verne.elpais.com/verne/2016/03/04/mexico/1457053584_656377.html (Consultado a 29 de julho de 2024)
Mikael Mendes – Técnico de ORVC