Passados, paradigmas e perspetivas


Embora muitas vezes associado ao normal funcionamento do ano letivo, o trabalho do Centro Qualifica do Agrupamento de Escolas de Pombal não segue as mesmas janelas temporais. Por isso, ainda o novo ano letivo tinha acabado de espreitar quando já dois candidatos de comunidade cigana, que realizaram processo de RVCC de Nível Básico, preparavam-se para a última etapa deste percurso: a sessão de júri de certificação, que ocorreu no dia 26 de setembro.

Independentemente dos motivos que os levaram a deixar o percurso escolar, no devido tempo, para trás, chegaram até nós apresentando alguns denominadores em comum: acreditam que ainda que curta, se essa etapa não tivesse existido “jamais teriam aprendido a ler e escrever, retirando assim praticamente toda a possibilidade de poder levar uma vida sem depender da ajuda de outras pessoas”; pretendiam realizar o processo o mais rapidamente possível, cumprindo os requisitos a que este obriga, mas os imprevistos que se adensaram provaram-lhes que “quanto mais depressa, mais devagar”; reconhecem que o seu futuro não passa pelo legado transmitido pelo seu histórico familiar – as feiras – e que lhes compete um papel ativo na mudança de paradigma no sentido de uma efetiva integração social.

De facto, hoje, mais do que apenas ler as palavras, impera a necessidade de ler o mundo, pois já Paulo Freire defendia que só faz sentido o esforço de ler o texto se for para compreender o mundo, para nos compreendermos nele e o modificarmos na perspetiva da liberdade e da emancipação humana.

Se nem sempre foi fácil urdir a teia de saberes e de competências que naquele dia o C. e a T. apresentaram e defenderam perante o júri, a equipa do Centro acredita que terá sido um bom exercício de reflexão sobre o passado, mas também sobre o que almejam para cada novo “amanhã”, numa perspetiva de crescimento pessoal e profissional.

 

Isabel Moio – Técncia de ORVC