As portas abertas do Centro Qualifica determinam a diversidade de perfis, de histórias e de vidas que por elas entram. Nem todos são jovens e empregados. Nem todos são de meia-idade empregados. Nem todos querem ficar acomodados à situação laboral em que se encontram. Também são reformadas algumas das pessoas que aceitam o desafio de voltar aos bancos da escola com um caderno na pasta, um coração aberto e as mãos calejadas da vida dispostas a agarrar novamente um lápis e uma caneta, mas também a aprender a explorar algumas das ferramentas informáticas a que um computador nos dá acesso.
Foi este o caso da M. e da N. que, cerca de sessenta anos depois de saírem da escola, trocaram a comodidade das noites na sua casa pelas cadeiras de uma sala que as levou a revisitar o 25 de Abril de 1974 – tendo-o vivenciado, sem na altura terem noção do que se estava a passar –, que as ajudou a suavizar a relação árida com os números quando tomaram consciência que a Matemática, se compreendida, ganha de facto sentido e significado, e que as ajudou a voltar a juntar as letras em exercícios de leitura e de escrita melhorando estas competências basilares na vida de qualquer pessoa.
Passados todos esses anos desde que a escola ficou para lá no tempo, poderá não lhes ter sido inicialmente fácil retomar hábitos enferrujados e desenvolver outros: para uma, entre as mondas do arroz e a gestão de um restaurante construído de raiz; para outra, no carrossel de aventuras criadas de restaurante em restaurante, ora por conta própria ora por conta de outrem. No entanto, tiveram em comum o exemplo de vida que foram para a Equipa, mas sobretudo para outros potenciais candidatos, que contaminaram com a sua energia e capacidade de adaptação e de superação. Afinal… Velhos? São os trapos!
Isabel Moio – Técnica de ORVC